quinta-feira, 20 de setembro de 2007

A INCURSÃO DO METODISMO EM CATAGUASES

O metodismo mineiro é repleto de experiências missionárias marcadas pela hostilidade, assim como pela voluntariedade despojada de muitos de seus pregadores. A situação missionária que estava por se iniciar na cidade de Cataguases reservava surpresas semelhantes às de Ubá. Assim, nossa intenção é narrar de forma modesta a incursão do metodismo em Cataguases, informando o quão rude foi também a chegada do metodismo naquela cidade, relembrando uma experiência de Felippe R. de Carvalho.

A incursão do metodismo em Cataguases é admitida com a primeira visita do pastor Felippe R. de Carvalho à cidade, fato ocorrido aos 9 de fevereiro de 1894. No entanto, essa incursão do metodismo em Cataguases tem conexões com o metodismo de Ubá. Segundo José Carlos Barbosa, “a decisão de abrir trabalho metodista em Cataguases foi tomada na Conferência Distrital de Minas, realizada em Ubá entre os dias 11 a 13 de janeiro de 1894”, Coube ao presidente da Conferência, Rev. E. A. Tilly decidir sobre a ocupação imediata ou não do novo campo, assim como a designação de um pastor.

Conforme o histórico da igreja local – “O Cristianismo Metodista no Brasil” – elaborado pelo Rev. Epaminondas Moura, o qual enviou também itens do histórico da igreja local ao Expositor Cristão (1940),


“Felippe R. de Carvalho chegou pela primeira vez a Cataguases, levando algumas Bíblias para vender sem conhecer pessoa alguma, sem outra direção, a não ser a da providência divina. O sr. José Fernandes Sucasas trabalhava no seu ofício, como de costume; e morava no antigo prédio, onde hoje [1940] se acha o jardim da estação da Leopoldina. Certo dia (talvez 9 de fevereiro), ao olhar despreocupado para a rua viu passando pela calçada um moço magro, moreno, simpático, humilde, levando um amarrado de livros na mão; e, instintivamente, chamou o viajante, sem saber quem era e lhe perguntou":

– “Que livros são estes que o senhor leva aí?”
– “São Bíblias”, respondeu o desconhecido, notando que o alfaiate falava alto (o sr. Sucasas sempre teve o timbre de voz muito forte).
– “Bíblias? Para que anda o senhor com estes livros?” perguntou o sr. Sucasas.
– “Para vender!” Foi a resposta que ouviu do vendedor.
– “Quem é o senhor?”
– “Eu sou pastor da Igreja Metodista”, respondeu o desconhecido começando a dar o seu testemunho.
– “Mas que é que o senhor anda fazendo por aqui?”
– “Eu venho a esta cidade para ver se consigo com o auxílio de Deus abrir um trabalho evangélico”.
– “Como se chama o senhor?”
– “Felippe de Carvalho, seu criado”.
– Faça o favor de entrar, eu desejo muito comprar uma Bíblia em português, falou o sr. Sucasas, mostrando atenção.
– “Pois eu estou aqui para vendê-las” respondeu o jovem pastor, entrando e sentindo certo ânimo. Nisto o sr. Sucasas pegou em um dos seus livros e perguntou:
– “Quanto custa uma dessas?”
– “Apenas 1$500, pode abrir e examinar”.
– “Só 1$500,? Então dê-me duas! E aqui estão 3$000!”


Após alguns instantes de conversa, Felippe saiu da casa do sr. Sucasas ganhando as ruas de Cataguases, oferecendo e vendendo exemplares da Bíblia, nos mesmos moldes dos colportores-missionários Daniel Parish Kidder e Hugle Clarence Tucker. Não tardou e Felippe R. de Carvalho alugou uma sala, no intuito de instalar um ponto de referência (um ponto de pregação) para reunir os ouvintes do Evangelho. Narra-se que de fevereiro a maio de 1894, o rev. Felippe passou conversando com as pessoas da cidade, “visitando as famílias e vendendo livros”. Em seguida, resolveu buscar sua família que estava instalada, supõe-se, em Juiz de Fora ou Rio Novo.

É muito comentada a predileção de Felippe R. de Carvalho pela data de 13 de maio; é, portanto, em 13 de maio de 1894 que se inaugura o salão de cultos em Cataguases. No domingo seguinte (20 de maio de 1894), o salão foi invadido por um grupo de fiéis católicos, incitados, conforme as narrativas históricas do Rev. Epaminondas Moura, pelo monsenhor Araújo, vigário paroquial local. A turba agitada, composta por cerca de 50 pessoas, entrou no templo gritando – Fora o protestante, fora o protestante! – e então um dos agitadores “deu uma terrível chibatada no irmão Júlio Lopes”. Já houve quem defendesse que a chibatada foi dada em direção da esposa do Rev. Felippe, a qual estava em vésperas de dar a luz, e que o irmão Júlio Lopes entrou na frente no intuito de protegê-la da agressão. Em seguida arrastaram Felippe R. de Carvalho pela rua à fora, intimidando-o a embarcar à força, expulsando-o da cidade. O humilde pregador continuou o seu trabalho, apesar das dificuldades que enfrentou para estabelecer o novo campo missionário de Cataguases, sendo seu trabalho reconhecido em todo o território nacional e da 4ª Região Eclesiástica.

BIBLIOGRAFIA:

BARBOSA, José Carlos. Salvar e educar: o metodismo no Brasil do século XIX. Piracicaba: Cepeme, 2005.
EXPOSITOR CRISTÃO. “O cristianismo metodista no Brasil”. São Paulo, maio de 1940.
KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928.
MOURA, Epaminondas. O cristianismo metodista no Brasil. Cataguases-MG, Texto não publicado.

UMA NARRATIVA DAS EXPERIÊNCIAS MISSIONÁRIAS EM UBÁ

O metodismo é inaugurado em Ubá no início de 1891, tendo John Willian Tarboux como um dos primeiros pregadores e, conseqüentemente, o fundador do trabalho. Coube, em seguida, a nomeação de Justiniano R. de Carvalho para o novo campo de trabalho. Como comentou James L. Kennedy, “o diabo estava pintando o sete” por aquelas “cercanias da culta cidade de Ubá”. Com base em James L. Kennedy, a Conferência Anual registrou em seu relatório uma experiência chocante, ocorrida em dezembro 1893, nessa cidade. As vítimas eram os pregadores Antônio J. de Araújo e J. L. Becker, que ao voltarem de uma Escola Dominical na propriedade do sr. Belmiro Siqueira, foram surpreendidos por um grupo de agressores, que os surraram com paus e chicotes, sendo arrastados pela vias públicas da cidade.

Segundo James L. Kennedy, "o rev. Araújo cahiu immediatamente por terra, por ter recebido dos agressores muitas pancadas na cabeça. Deixando-o por morto [ou semi-morto], foram esses aggressores ajudar outros a esbordoar o sr. Becker. Este com grande dificuldade conseguiu escapar, depois de ter recebido duas facadas, ficando com o corpo em estado lastimável" [sic]. Na opinião de James L. Kennedy, Antônio J. de Araújo e J. L. Becker foram nessa circunstância protegidos por Deus e poupados para longos anos de serviço honrado e abençoado, sendo o rev. Becker reconhecido como um dos obreiros de vanguarda do ministério brasileiro daqueles tempos.

É preponderante notar ainda naqueles tempos que na localidade em que os obreiros experimentavam mais dificuldades e, muitas vezes, maior perseguição, para ali concorria o apoio e emprego de novos esforços. Portanto, passado apenas um mês do ocorrido com os irmãos Antônio J. Araújo e J. L. Becker, a Conferência de Minas se reuniu na cidade de Ubá, aos 11 de janeiro de 1894, para celebrar ao Senhor, assim como discutir os rumos da missão.

Conforme James L. Kennedy, compareceram a Conferência Distrital de Minas: E. A. Tilly, J. W. Tarboux, J. E. Tavares, F. R. de Carvalho, A. C. da Fonseca, A. J. de Araújo Filho e J. L. Becker e o pregador local, A. Ribeiro da Silva. Assistiram ainda a Conferência os seguintes representantes leigos: os senhores Genuíno Antonio de Oliveira, José Leonel Lopes, Belmiro Teixeira de Siqueira Junior, Horacio Herculano Valério, Rodolpho Schomacker e Augusto Hoehne Filho. Nessa mesma Conferência, avaliou-se: “Em Ubá, não obstante as perseguições tenazes que sofriam os irmãos, estava a causa progredindo”. Registrou-se também uma momentânea dificuldade com o trabalho em Ouro Preto nessa Conferência, sendo nomeado o irmão J. L. Lopes para o campo missionário.

A missão metodista e a evangelização protestante foram, de um modo geral, marcadas pela forma simples e rudimentar de evangelizar dos missionários, porém eficaz e contundente. É comprovado historicamente que tanto na primeira tentativa de implantação de uma missão metodista no Brasil quanto na sua inserção definitiva, os metodistas foram duramente criticado, especialmente pelo clero católico, sendo o seu representante mais conhecido o Padre Luiz Gonçalves dos Santos, cognominado Padre Perereca. Não é por acaso que os metodistas representaram umas das expressões mais vigorosas do protestantismo no século XIX. Não é por acaso também que tenham sido vítimas de tantas perseguições e hostilidades, no Brasil e, como se vê, no Estado de Minas Gerais.

BIBLIOGRAFIA:

BARBOSA, José Carlos. Salvar e educar: o metodismo no Brasil do século XIX. Piracicaba: Cepeme, 2005.
KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928.
REILY, D. A. História documental do protestantismo no Brasil. São Paulo: Aste, 2003.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

UM NOVO CAPÍTULO DA HISTÓRIA DO METODISMO EM OURO PRETO

A História de uma Bíblia

Esta história remonta aos fins do século XIX, quando um não identificado missionário metodista norte-americano visitou a cidade de Ouro Preto, MG, em trabalho de evangelização. Por seu intermédio um casal de ex-escravos – Alcides Carvalho e sua mulher – se converteu à fé evangélica e abriu as portas de sua humilde casinha para a realização dos cultos metodistas, dirigidos pelos pastores da Igreja [Metodista] Central de Belo Horizonte, em cuja área paroquial se incluía Ouro Preto.

A convite do Sr. [Alcides] Carvalho, começou a assistir aos cultos um português, o Sr. Rodrigo Silva, que passou a se interessar pela desconhecida fé evangélico-protestante. Convencido de que ali se encontrava uma dimensão da verdade que ele não conhecia, o Sr. [Rodrigo] Silva foi para casa e disse a sua mulher, D. Ana Rosa: “A partir de agora vamos todos ser metodistas. Vamos passar a freqüentar os cultos na casa do Sr. [Alcides] Carvalho”.

D. Ana era mulher decidida. Havendo sido deixada pelo marido em Portugal e achando que este estava demorando muito para ir buscá-la, não duvidara. Por sua conta, embarcara com as crianças para o Brasil e viera atrás dele. Apesar deste espírito independente, ela reconheceu que o marido havia encontrado algo significativo e adotou a nova fé com igual disposição. Até então o catolicismo era a vertente cristã que os Silva seguiam e nela educavam seus filhos e filhas.

Foi a esta altura que uma Bíblia veio parar em sua casa, ignorando-se se comprada pelo chefe da família ou se recebida em doação dos pastores metodistas. Deolinda, Idália e outra das agora quatro filhas do casal, receberam uma oferta dos missionários para irem estudar em uma escola da igreja, hoje não mais existente, o Colégio Americano de Petrópolis, RJ. Quando Deolinda voltou para casa, ao término dos estudos, recebeu um convite para lecionar em uma escola paroquial metodista em Sta. Maria, RS. Sua irmã Idália se casara com o pastor metodista desta cidade, o Rev. Antônio Fraga. Ali, Deolinda convidou um grupo de rapazes para que entrassem na igreja e viessem assistir aos cultos. Entre eles havia um, de nome César, que chamou sua atenção de modo especial. Ele começou a freqüentar a igreja e se tornou metodista. Mais do que isto: apaixonou-se por ela e eles acabaram por ficar noivos.

Deolinda, no entanto, precisou voltar para Ouro Preto a fim de ficar com seus pais e estes não concordaram de modo algum que ela voltasse ao Rio Grande para se casar. O noivado se desfez. Os anos se passaram e eles perderam contato. Ela acabou se casando com Olívio Ângelo Tóffolo e constituiu família. D. Deolinda somente veio a rever o jovem César quando este se tornou pastor da Igreja Central de Belo Horizonte e foi visitar Ouro Preto. Ele era agora conhecido como Rev. César Dacorso Filho.

Uma das filhas de D. Deolinda foi a Sra. Anésia Tóffolo. D. Anésia e seu marido, o engenheiro Dr. Paulo Ayres (não era parente do Bispo Paulo Ayres Mattos), ambos já falecidos, foram por longos anos membros da Igreja Metodista Central de São Paulo. Por caminhos cujos detalhes estão perdidos nos becos da história, a Bíblia levada para a casa do Sr. Silva – cujo volume do Novo Testamento lamentavelmente desapareceu – veio a ser parte do processo que acabaria por levar à ordenação do primeiro bispo metodista brasileiro. A mencionada Bíblia faz hoje parte do acervo do Museu Metodista, na Faculdade de Teologia em Rudge Ramos.


(Registrada pelo Rev. Sérgio Marcus Pinto Lopes a partir de entrevista com D. Anésia Tóffolo Ayres, agosto de 2002)

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

O METODISMO EM OURO PRETO

O metodismo é, provavelmente, um dos primeiros ramos do protestantismo que chegou à cidade de Ouro Preto. Os primeiros missionários que para ali concorreram em abril de 1891, supunham realizar as primeiras pregações feitas por protestantes naquelas imediações. Ouro Preto era naquela ocasião a capital do Estado de Minas Gerais[1]. Uma “novidade na abertura desta nova missão foi a presença do evangelista Henry Maxwell Wright”[2]. O redator do Expositor Cristão, Rev. J. W. Wolling, descreve como ocorreu a primeira tentativa de se estabelecer uma missão metodista em Ouro Preto:

Em companhia dos Srs. Tucker, Tarboux e Wright nós fomos para lá tomar parte na inauguração da obra evangélica em Ouro Preto, ou pelo menos para presenciar as pregações que se iam fazer pela primeira vez, como nós supomos, naquele lugar.

Não podia ser melhor sucedida a tentativa que se fez a este respeito. Quando foram os irmãos Srs. Tucker e Wright falar com o Intendente para arranjar uma sala onde pudéssemos celebrar culto, ele mostrou-se muito benigno e cedeu a sala da Intendência de bom grado.

Na primeira noite a concorrência foi muito boa, verdade é que a sala não podia conter a multidão, o sr. Wright discursou sobre um tópico bem apropriado à ocasião e o numeroso auditório com todo o acatamento prestou muita atenção. Todas as clãs-ses da sociedade achavam-se representadas. Os deputados e funcionários do governo, muitos moços estudantes nas várias instituições literárias, os negociantes e os caixeiros e em fim um crescido número encheu a sala e escutou silencioso as explicações claras e convincentes que o evangelista lhes dava.

(...............................................................................)

Foram espalhados muitos tratados e folhetos, venderam-se todas as Bíblias e livrinhos que os irmãos levavam e arranjou-se uma boa lista de assinantes para o Expositor Cristão. A boa semente está semeada e assim concluídas as primeiras pregações do Evangelho na Capital dos Mineiros.
[3]

Conforme José Carlos Barbosa, o Rev. João E. Tavares foi o primeiro pastor efetivo de Ouro Preto, fixando residência na cidade a partir de 11 de novembro de 1891
[4]. Assim, o metodismo organizou a Igreja em Ouro Preto, em fevereiro de 1893, com 11 membros[5]. Embora as expectativas não fossem as mais otimistas sobre o desenvolvimento do metodismo na cidade, conforme registra o pastor J. L. Becker, em 10 de dezembro de 1895[6], a sorte estava lançada. Em abril de 1899, João E. Tavares passou sete dias em Ouro Preto, realizando cultos em quatro pontos diferentes da cidade, entusiasmando-se novamente com o trabalho[7].

O metodismo ouro-pretano acumula uma experiência eclesial inédita na sua história local e, conseqüentemente, na história do metodismo brasileiro. Ocorre que no escopo do Conjunto Arquitetônico e Urbanístico da Cidade de Ouro Preto, a cidade foi erigida como Monumento Nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), conforme o Dec. nº 22.928 de 12 de julho de 1933. Tal registro arrola-se no IPHAN, sob o processo nº 070-T-38.

O Conjunto Arquitetônico de Ouro Preto é também um dos bens inscrito pela Unesco na lista do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, desde 21 de setembro de 1980. Além disso, o templo metodista em Ouro Preto é o templo protestante mais antigo da cidade, conforme informou Ângelo Oswaldo, prefeito da cidade de Ouro Preto, em audiência com o Rev. José Carlos Soares Souto (2005).

É flagrante a ligação histórica entre o metodismo ouro-pretano e o belo-horizontino. Nos registros do Expositor Cristão, João E. Tavares, um dos pastores mais atuantes no Circuito de Belo Horizonte, faz menção de seu trabalho pastoral por volta de 1900 que incluía Miguel Burnier, Ouro Preto, Lafayette, Sete Lagoas, Sabará e outros[8]. É provável que vários acontecimentos históricos que envolveram Ouro Preto tenham contribuído pra descontinuidade do metodismo na antiga capital de Minas.

Na década de 1940, a comunidade metodista em Ouro Preto foi presenteada com um terreno central pela irmã Deolinda Tofollo, um dos testemunhos mais expressivos na vida da Igreja daqueles tempos. Neste terreno, foi construído o templo atual de reunião da igreja local, desenhado pelo Dr. José de Souza Reis, arquiteto que também desenhou o Panteão dos Inconfidentes.

A história do metodismo em Ouro Preto desafia o metodismo brasileiro a re-avaliar sua estratégia missionária. Certamente, a comunidade ouro-pretana é um modelo de inspiração no exercício da perseverança missionária. Uma de suas principais aliadas nessa caminhada missionária é a Igreja Metodista Central em Belo Horizonte. Aliás, é essa parceria que tem tornado possível a revitalização missionária do metodismo em Ouro Preto, o que tem ocorrido desde o pastorado do Rev. Cláudio Valverde (2001) e Rev. Moisés Abdon Coppe e Revda. Raquel Coelho Pontes (2002-2003), na Igreja Metodista Central em Belo Horizonte.

Um Projeto Missionário Distrital estabeleceu as congregações de Ouro Branco e Ouro Preto, unificadas, como Campo Missionário Distrital, iniciado no ano de 2003, tendo como superintendente o Rev. Lino Estevão Magalhães Leite, culminando com o surgimento do Campo Missionário Distrital Ouro Branco e Ouro Preto, que acolheu a nomeação do pastor Luciano de Barros em 2003 e 2004, sendo sucedido a partir de 2005 pelo Rev. José Carlos Soares Souto, pastor atual do CMD em Ouro Preto.


[1] Cf. James L. Kennedy, Cincoenta annos de Methodismo no Brasil, p. 61. Cf. José Carlos Barbosa, Salvar e educar: o metodismo no Brasil do século XIX, p. 137. Somente em 12 de dezembro de 1897 é que Belo Horizonte (anteriormente Curral Del Rey) passou a figurar como capital de Minas Gerais.
[2] Cf. José Carlos Barbosa, Salvar e educar: o metodismo no Brasil do século XIX, p. 137. Henry M. Wright era proveniente de Portugal e de tradição congregacional. Como conferencista, estava em sua segunda turnê de evangelização pelo país, sendo convidado pelos metodistas para ir a Ouro Preto.
[3] Citado por José Carlos Barbosa, Salvar e educar: o metodismo no Brasil do século XIX, p. 137-138.
[4] Citado por José Carlos Barbosa, Salvar e educar: o metodismo no Brasil do século XIX, p. 139.
[5] Cf. James L. Kennedy, Cincoenta annos de Methodismo no Brasil, p. 67. Cf. José Carlos Barbosa, Salvar e educar: o metodismo no Brasil do século XIX, p. 138.
[6] Citado por José Carlos Barbosa, Salvar e educar: o metodismo no Brasil do século XIX, p. 139.
[7] Citado por José Carlos Barbosa, Salvar e educar: o metodismo no Brasil do século XIX, p. 139.
[8] Um dos registros que evidenciam essa excursão missionária do Rev. João E. Tavares pelo circuito é o de 1 de fevereiro de 1901. Tal registro consiste de um relatório enviado ao Expositor Cristão (1901).

sábado, 8 de setembro de 2007

A INSERÇÃO DO METODISMO NO ESTADO DE MINAS GERAIS

Historicamente, Juiz de Fora foi a primeira cidade do Estado de Minas Gerais a receber os missionários metodistas. O trabalho missionário que ali se iniciou, ainda no século XIX, surgiu como uma iniciativa do Distrito do Rio de Janeiro. Nessa conjuntura, estavam reconhecidos como distritos da missão metodista o do Rio de Janeiro e o de São Paulo. A cidade de Juiz de Fora era apontada como estratégica para o estabelecimento de uma Igreja e de um Colégio.

O trabalho missionário de pregação do evangelho iniciou-se em maio de 1884, como veremos a seguir. O Colégio é fundado em 1890, organizado com o nome de “Colégio Americano Granbery”, sob a direção dos missionários J. M. Lander e J. W. Wolling, sendo sustentado financeiramente pela Junta Missionária de Missões da Igreja Metodista Episcopal do Sul dos Estados Unidos.

James L. Kennedy lembra, por sua vez, na história sobre os “Cincoenta Annos do Methodismo no Brasil”, que foi o missionário John James Ransom quem planejou a abertura do campo de evangelização em Minas Gerais, escolhendo Juiz de Fora como sede da obra missionária. Assim, J. J. Ransom enviou Samuel Elliot, Hermann Gartner e Ludgero Miranda para preparar sua chegada. A propósito, esses irmãos se valiam do objetivo de auxiliarem a chegada de um pregador metodista, preparando o ambiente para uma série de conferências, estratégia adotada por vários grupos protestantes no contexto do século XIX, como o foi também no século XX.

Ransom não pode cumprir com o seu planejamento missionário de realizar a série de conferências em Juiz de Fora por motivo de enfermidade na família, solicitando então ao Rev. James L. Kennedy que o substituísse nessa tarefa. Eula Kenndey Long, na biografia que escreve sobre o pai, “O Arauto de Deus – a vida de James L. Kennedy”, relata o episódio com detalhes pitorescos. A seguir citamos trechos do relato:

O Rev. Ransom preparava-se para iniciar trabalho metodista em Juiz de Fora. Enviara adiante, três leigos para distribuírem Bíblias e folhetos, e fazerem propaganda da próxima série de cultos evangelizantes.

Uma noite, após sua volta ao Rio, papai ouviu o tinir da grande campainha do portão. Saindo, viu com surpresa, o Rev. Ransom. “Pensei que o sr. Já estava em Juiz de Fora”, disse ao cumprimentar o amigo e colega.

“Não irmão Kennedy”, explicou o Rev. Ransom, “Minha senhora adoeceu e eu não posso nem levá-la nem deixá-la. Quero que o sr. vá imediatamente em meu lugar, porque os dias das reuniões já foram anunciados”. Papai ficou atordoado.

“Mas Rev. Ransom, acabamos de vir de Piracicaba”, protestou, e acabamos de montar casa de novo!... Mas afinal não soube recusar.

Conforme relato do próprio Kennedy, ali chegando com a sua família foi recebido com muita cordialidade, iniciando logo o seu trabalho. A primeira casa que foi morar, na qual também iniciou a pregação, foi a que alugou na Rua Santo Antônio nº 10, servindo-se da sua sala de jantar como sala de cultos. Foi nesta casa que realizou a série de conferências que estava programada e foi nela também que se converteu Felippe R. de Carvalho, que conforme Kennedy, foi uma das “primícias do Evangelho entre os brasileiros de Juiz de Fora”.

A obra missionária em Juiz de Fora apresentou sinais de grande vigor cedo. Ransom pode cumprir, em seguida, com o seu propósito inicial, substituindo o Rev. Kennedy na direção do recém-fundado trabalho metodista. No seu relatório à segunda Conferência Anual Missionária, Ransom acentuou como o trabalho metodista em Minas Gerais se estendia além de Juiz de Fora, para Mar de Hespanha, Rio Novo e arredores, organizados em três circuitos. Juiz de Fora, logo, veio abrigar o terceiro templo metodista brasileiro e o primeiro de Minas Gerais.

As origens da 4ª Região Eclesiástica, como já dito de outra forma, podem ser interpretadas a partir do reconhecimento territorial e eclesiástico do Distrito de Minas, ocorrido em 1892. A missão metodista em Juiz de Fora e arredores já representava um circuito importante no contexto do metodismo brasileiro. A estrutura eclesiástica primária do metodismo brasileiro estava assim forjada, composta agora dos Distritos Rio de Janeiro, São Paulo e Minas.

É oportuno relembrar aqui ainda um fato histórico que é o ocorrido em 18 de maio de 1887, quando se reuniu na cidade de Juiz de Fora, no bairro Mariano Procópio, na nova Igreja Metodista, a primeira Conferência Distrital do Metodismo Brasileiro. A sessão foi composta por J. L. Kennedy (presidente da Conferência), H. C. Tucker, J. R. de Carvalho, F. R. de Carvalho e Ludgero de Miranda. Pela primeira vez também, elegeram-se delegados leigos à Conferência Anual Brasileira: S. D. Rambo e Thomaz Duxbery, como já registramos isso de outra forma anteriormente.


BIBLIOGRAFIA:

1. BARBOSA, José Carlos. Salvar e educar: o metodismo no Brasil do século XIX. Piracicaba: CEPEME, 2005.
2. KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928.
3. MESQUITA, Zuleica de Castro Coimbra. “A proposta educacional metodista no Brasil: fase de implantação – 1876-1914”. Revista do Cogeime. Piracicaba: COGEIME, v. 4, n. 6, 1995.
4. SILVA, Gercymar Wellington Lima e. As origens da Quarta Região Eclesiástica. Belo Horizonte: Gráfica e Editora Nacional, 2006.