sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A PRESENÇA METODISTA NO ARRAIAL DE VENDA NOVA: A CONVERSÃO DO CARPINTEIRO CÂNDIDO MENDES DE MAGALHÃES – O PRIMEIRO METODISTA DE VENDA NOVA

Infelizmente nossas igrejas locais têm pouco conhecimento da própria história, o que constitui um desafio levantar dados tão específicos, assim como dialogarmos sobre a História da Inserção do Metodismo em Minas Gerais. Seria indispensável para um trabalho mais promissor conseguirmos organizar um ministério preocupado com a História e a Memória da Igreja para facilitar o resgate da nossa herança metodista e wesleyana.

Elegemos abordar nesta página a história da presença metodista no pequeno arraial de Venda Nova, o qual conta com uma história missionária oriunda do século XIX, descoberta recentemente por José Carlos Barbosa. Até então, poucos sabiam que o arraial de Venda Nova foi alvo efetivo da atuação missionária, decorrente da chegada do metodismo à cidade de Sabará e à pequena freguesia de Belo Horizonte [naquela época conhecida apenas como Curral Del Rei].

Buscaremos, assim, descrever uma narrativa sobre a presença metodista em Venda Nova a partir da conversão de Cândido Mendes de Magalhães, considerando quem foram os ministros que lhe anunciaram o Evangelho e as verdades bíblicas, levando-o a ser um cristão professo na fé metodista. Conseqüentemente, conheceremos um pouco sobre a incursão do metodismo em Venda Nova, no desfecho do século XIX.

A história da experiência de conversão de Cândido Mendes de Magalhães é um dos relatos mais convictos que lemos nas páginas do Expositor Cristão, especialmente no contexto do século XIX. Na opinião de José Carlos Barbosa, a experiência de Cândido Mendes de Magalhães “descreve um itinerário bastante freqüente entre os que adotavam o protestantismo” (Cf. BARBOSA, p.228.).

Conforme José Carlos Barbosa, Cândido Mendes de Magalhães exercia o ofício de carpinteiro e era católico. Segundo o autor, por vinte e quatro anos lutou contra a própria ignorância (Cf. BARBOSA, p.228.). Tinha um imenso interesse por conhecer as Escrituras Sagradas, busca que o levou ao conhecimento mais abrangente da fé cristã.

No testemunho de sua conversão publicado no Expositor Cristão, o carpinteiro ponderou sobre a dificuldade e proibição de acesso que o povo tinha à Palavra de Deus: “Ouvia falar da Escritura Sagrada proibida pela Igreja e ficava pensativo, pois o que é sagrado é proibido? O que é de Deus é proibido?” (Expositor Cristão, 16/05/1896, p.2.).

Deus, na sua infinita misericórdia, visitou o irmão Cândido Mendes de Magalhães, derramando suas bênçãos sobre sua vida, fazendo-o conhecedor de suas revelações e, conseqüentemente, das verdades cristãs. Tendo procurado assistência espiritual de um padre, com a reputação de sábio, não encontrou solução para seus dilemas de fé. Essas e outras coisas contribuíram para que o irmão Cândido começasse a examinar os abusos que se davam na Igreja (Expositor Cristão, 16/05/1896, p.2.).

Pretendendo ir ao Rio de Janeiro ouvir a pregação do Evangelho pelos ministros que ouvia dizer que lá havia, soube que em Sabará, a 18 quilômetros de sua residência (Belo Horizonte), havia pregadores do Evangelho. Continuamos a narrativa da experiência utilizando as palavras do irmão, registradas no Expositor Cristão:

“Preparava-me para procurá-los quando Deus trouxe à minha casa pela primeira vez os irmãos Ministros Srs. Cardoso e Bruce (...) e algum tempo mais tarde o zeloso irmão Cardoso conseguiu arranjar uma sala onde pregou três vezes, as primeiras que pude ouvir, sendo que já, nessa ocasião, possuía a Bíblia que o mesmo zeloso irmão me fornecera, bem como a outras pessoas” (Cf. Expositor Cristão, 16/05/1896, p.2.).

A conversão de Cândido Mendes de Magalhães ocorria paulatinamente, à medida que ia lendo e meditando na Palavra e no auxílio que o irmão Cardoso lhe prestava. Nesse meio tempo, o carpinteiro Cândido compreendeu as razões da negação da Igreja de Roma pela Escritura Sagrada. O irmão tomou direção mais segura na caminhada de fé, rompendo de vez com o erro, fazendo profissão de fé depois da 4ª pregação que viu e ouviu realizando no ensino de Jeremias – “Vós me buscareis e me achareis...” (Expositor Cristão, 16/05/1896, p.2.).

Como temos lembrança, a visita do Rev. J. L. Bruce, feita na companhia do Rev. Antônio Cardoso da Fonseca, à Belo Horizonte é o primeiro registro histórico de um contato com a cidade, ocorrido em maio de 1892. Conforme se tem notícia, não foi uma visita bem sucedida. Noutra ocasião lembramos que na primeira visita dos Revs Bruce e Cardoso, o Padre Marcelo promoveu um levante, “insuflando a população no combate aos pregadores”. Mesmo assim, o Evangelho encontrou boa acolhida em Venda Nova, mesmo tendo encontrado ali expressões do zelo católico também, tendo o tentador utilizado a pessoa de “um tal mestre Quinca que a fina força queria perturbar a pregação (...)” e a ordem na casa que conseguiram alugar.

Contudo há garantia por parte de João Evangelista Tavares que em Venda Nova sempre houve boa acolhida ao Evangelho e aos ministros protestantes. Resta considerar que Venda Nova era apenas um arraial de Curral Del Rey e parte integrante da freguesia, como até hoje é parte de Belo horizonte. Mas falar de Venda Nova naquela época era falar de um arraial (uma localidade). Basta conferirmos as palavras de João Evangelista Tavares: “No dia 25 (abril) seguimos para Venda Nova, pequeno arraial a 25 léguas da nova capital e lugar da residência do Sr. Cândido Mendes de Magalhães, um dos mais fiéis crentes e membros da nossa Igreja” (Expositor Cristão, 09/05/1896, p.1.).

À modo de conclusão, lembramos que “o carpinteiro Cândido Mendes de Magalhães foi o primeiro metodista de Venda Nova, convertido durante o período em que morava em Belo Horizonte e fruto do trabalho evangelístico realizado por J. L. Bruce e A. Cardoso da Fonseca” (Cf. BARBOSA, p.227.). O testemunho de João E. Tavares assinala o zelo e compromisso do irmão Cândido Mendes de Magalhães, representante fido da memória e da presença metodista que se conservou fiel à sua profissão de fé, sonhando com um tempo em que poderia fundar ali uma congregação regular para a proclamação da Palavra de Deus que um dia o levou a trilhar o caminho da salvação plena.

BIBLIOGRAFIA:

BARBOSA, José Carlos. Salvar e educar: o metodismo no Brasil do século XIX. Piracicaba: Cepeme, 2005.
EXPOSITOR CRISTÃO. São Paulo, 1896.
KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928.

INCURSÕES MISSIONÁRIAS NA CIRCUNVIZINHANÇA DE JUIZ DE FORA - Início do metodismo em Lima Duarte

O metodismo chegou à Lima Duarte através do trabalho incansável de Antonio de Souza Pinto, portanto, apontamos a necessidade de conhecer a sua trajetória no cenário do metodismo mineiro-juizforano. É verdade que muitos outros obreiros colaboraram no Circuito de Juiz de Fora e nos arredores. No entanto, temos que nos limitar a discorrer neste momento somente sobre Antônio de Souza Pinto. Como é nossa proposta, em seguida, buscaremos esboçar o surgimento do trabalho metodista em Lima Duarte e a importância de tal comunidade, sendo que a mesma parece compor uma extensão do trabalho missionário de Juiz de Fora.

Diferentemente do trabalho metodista em Palmyra, do qual encontramos várias referências históricas e pessoas interessadas em pesquisar sobre as origens do metodismo na cidade, há um desconhecimento quase que total da história do metodismo em Lima Duarte. A indicação pontual apenas do início do trabalho metodista em Lima Duarte, na obra de James L. Kennedy, oculta mais detalhes sobre o aparecimento do trabalho na pequena Lima Duarte. Entretanto, essa comunidade estava em nosso roteiro de pesquisa e seu surgimento tem importância capital no resgate histórico do metodismo em Minas Gerais. Há indícios de vínculos entre o trabalho em Lima Duarte e o trabalho de Barbacena, o que carece de confirmação com uma pesquisa mais detalhada.

A trajetória de Antonio de Souza Pinto na Igreja Metodista
Como já narramos certa feita, Antonio de Souza Pinto foi responsável também pela inserção do metodismo em Palmyra (Santos Dumont). É oportuno elencarmos alguns itens sobre a trajetória histórica de Antonio de Souza Pinto na Igreja Metodista, como em outros momentos o fizemos, lembrando de vários nomes importantes para a história do metodismo em Minas Gerais.

Lembramos assim, que Antonio de Souza Pinto foi licenciado pregador em 28 de fevereiro de 1901, ao lado do ex-padre Hyppolito de Oliveira Campos (KENNEDY, 1928, p.107.). Conforme se tem notícia, Hyppolito de Oliveira Campos é outro nome importante ligado as raízes do trabalho em Juiz de Fora; primeiro, pela oposição que fez ao metodismo; depois, compondo as fileiras de pregadores do Evangelho, ao lado dos pregadores metodistas no Circuito.

O primeiro desafio missionário de Antonio de Souza Pinto foi, portanto, encetar um trabalho em Palmyra. James L. Kenndey lembra que a primeira visita à Palmyra ocorreu em maio de 1901 (KENNEDY, 1928, p.109.). Constata-se que Antonio de Souza Pinto era então um pregador licenciado e pastor ajudante no Circuito de Juiz de Fora. Na seqüência, seu nome surge ligado à incursão do metodismo em Lima Duarte, fato que se reveste de extremo significado e nos ajuda a compreender a irradiação do metodismo a partir de Juiz de Fora.


O metodismo em Lima Duarte e o cenário do seu surgimento

A história sobre a inserção do metodismo em Juiz de Fora e cercanias é, sem dúvida, uma história do metodismo regional. Ao comentarmos sobre as origens da Quarta Região Eclesiástica (Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, Estados), indicamos que a nossa história é obviamente decorrente da inserção do metodismo no Brasil (SILVA, As origens da Quarta Região Eclesiástica, 2006, p.5.). De modo similar, podemos afirmar também que a nossa história em Minas Gerais é decorrente da inserção do metodismo em Juiz de Fora, de onde ele irradia suas raízes para todo o Estado de Minas Gerais (Cf. REVISTA EM EDIÇÃO ESPECIAL COMEMORATIVA DO CENTENÁRIO DO METODISMO EM JUIZ DE FORA, p. 29.).

Compete-nos ressaltar ainda que no contexto do surgimento do trabalho metodista na cidade de Lima Duarte, o metodismo inaugurou trabalhos missionários em pelo menos três localidades simultaneamente: Lima Duarte, Faria Lemos e Vargem Grande. A data para a fundação dos respectivos trabalhos é a de 16 de agosto de 1901. Como lembra James L. Kenndey: “Em Faria Lemos, a 16 de agosto, teve início o trabalho por Victorino Gonçalves; em Lima Duarte, por Antonio de Souza Pinto e em Vargem Grande, por E. Escobar Jr... ” (KENNEDY, 1928, p.111.).

No mesmo ano do surgimento desses trabalhos missionários, o metodismo inaugurou uma casa de culto na cidade de Muriaé [ou S. Paulo de Muriahé, como era anteriormente conhecida], no dia 21 de outubro de 1901 (Cf. KENNEDY, 1928, p.113.). No mais, resta informar que o ano de inauguração do trabalho missionário em Lima Duarte era um ano histórico para o metodismo brasileiro. Comemorava-se o 25º aniversário do restabelecimento do trabalho de nossa igreja no Brasil (KENNEDY, 1928, p.111.).

No tocante ao primeiro momento missionário da Igreja Metodista em Lima Duarte, apesar das informações escassas, pudemos aferir que os primeiros membros da Igreja foram: Francisco Ferreira da Paz Fortuna, Rachel Fortuna, Flausino Tavares da Silva, Hilarino A. da Costa, José da Cruz Bandeira, Vitalina da Costa, Manoel Joaquim de Almeida e Maria de Almeida, todos recebidos por batismo e profissão de fé, arrolados em 8 de dezembro de 1901. O pastor do campo de Lima Duarte na ocasião era o Rev. E. A. Tilly. Desde então, passaram pela Igreja Metodista em Lima Duarte pastores como J. C. Reis, Hyppolito de Oliveira Campos, Adolpho M. Ungaretti, João Evangelista Tavares, Alfredo M. Duarte, Miguel Dickie, José Ferraz. Raul Fernandes da Silva, Chas A. Long, W. B. Lee W. H. Moore, entre outros que serviram no campo de Juiz de Fora e arredores, atendendo o campo de Lima Duarte.

Considerações Finais

A comunidade metodista na cidade de Lima Duarte não obtém muitas referências de suas origens. Hoje, pelo menos, já se sabe do começo pontual da história do metodismo na cidade e um pouco sobre a trajetória da Igreja, vista somente a partir do Livro Rol de Membros. Cremos, no entanto, que há um elo entre a Igreja que forjou seus passos até 1949, quando a mesma foi descontinuada, em virtude do trabalho ter passado a ser congregação da Igreja Metodista no Bairro São Mateus, e a Igreja atual, que consolida um novo trabalho, agora como Campo Missionário Distrital.

Há, no entanto, uma analogia desse item do metodismo em Lima Duarte com a história do metodismo no Brasil, especialmente relacionado com a primeira incursão do metodismo no país em 1835/36 com descontinuidade em 1841 (SILVA, Caminhos e descaminhos da Graça, 2007, p.45-57.). Porém, a descontinuidade do trabalho em Lima Duarte no percurso histórico da missão metodista pelas cidades de Minas Gerais não diminui o brilho atual do metodismo na cidade.



BIBLIOGRAFIA:

KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928.
REVISTA EM EDIÇÃO ESPECIAL COMEMORATIVA DO CENTENÁRIO DO METODISMO EM JUIZ DE FORA. Juiz de Fora, MG: Grafite Gráfica e Editora, 1984.
LIMA e SILVA, Gercymar Wellington. As origens da Quarta Região Eclesiástica. Belo Horizonte: Gráfica e Editora Nacional, 2006.
_____. Caminhos e descaminhos da Graça: a herança wesleyana e a intermediação americana nas origens do metodismo brasileiro. São Paulo: Editora Cedro, 2007.

sábado, 4 de outubro de 2008

REMINISCÊNCIAS DA CHEGADA DO METODISMO À SÃO PAULO DE MURIAHÉ

A chegada do metodismo à Muriaé remonta aos anos de 1901-1902. Na época, a cidade era conhecida pelo nome de São Paulo de Muriahé. Num relato sobre a presença do metodismo em Muraié, Leon Everett Strunk narra que a presença evangélica na cidade pode ser admitida a partir da chegada de uma família protestante na localidade. Tal família, da qual não se sabe o nome de nenhum dos membros, foi residir inicialmente à Praça Rio Branco, numa casa em que, posteriormente, veio a se instalar a Rádio Patrulha.

Arnaldo Faria, um dos depoentes, no relato do rev. Leon Everett Strunk, lembra que uma família, recém-chegada à cidade, cantava um hino protestante em voz alta, após a missa dominical. O sacerdote, sabendo que se tratava de uma família protestante, não tolerou sua demonstração de fé, “arranjou uma turma de moleques e os mandou dizer aos evangélicos que se calassem e que se retirassem da cidade” (STRUNK, 1968, p.3).

Conforme Leon Everett Strunk, os tais protestantes tiveram que se retirar da cidade. Mais tarde, “outros protestantes vieram para Muriaé, reunindo-se aqui e ali, mais para os lados do Porto [Bairro do Porto], principalmente em casa de João Paiva, o pintor de fama naquela ocasião” (STRUNK, 1968, p.3).

O trabalho missionário, ainda incipiente, parece ter tido as suas bases estabelecidas na zona rural da cidade, o que ainda carece de ser comprovado. Portanto, é através da vinda de uma família de Tapirussú que se iniciou um trabalho missionário pontual em Muriaé. Trata-se da família de João de Oliveira Paiva que, na companhia de sua esposa, Dona Maria Liebert Paiva, e de seu filho, Quintino Liebert Paiva, tornaram possível o estabelecimento do metodismo em Muriaé.

James L. Kennedy narra, por sua vez, que os metodistas inauguraram uma casa de cultos em S. Paulo de Muriahé, no dia 20 de outubro de 1901. Conforme Kennedy, ainda, no dia seguinte, Victorino Gonçalves transformava o trabalho missionário em Igreja organizada (Cf. KENNEDY, 1928, p.113).

Conforme Isnard Rocha, Vitorino [Victorino] Gonçalves foi eleito diácono itinerante e ordenado pelo Bispo Galloway, em 1901, por ocasião da realização da Conferência. De forma memorável, Isnard Rocha lembra que em 1902, Victorino atendia o Circuito de Faria Lemos, o que torna possível admitir sua passagem por Muriaé no contexto de 1901-1902 (ROCHA, 1967, p.189).

A contribuição do pastor J. Floriano Martins para o metodismo de Muriaé foi significativa, direta e indiretamente. Historicamente, o pastor foi responsável pela profissão de fé da família Paiva. São notáveis seu desprendimento, zelo e dedicação, especialmente no que tange ao acompanhamento que ofereceu à família Paiva, quando a mesma se mudou de Tapirussú para Muriaé.

Conforme Leon Everett Strunk, “no arquivo ‘Atas e Documentos’, de 30/07/1903, Muriaé é citada como pertencendo à paróquia de Carangola, tendo tido como pastor o rev. J. Floriano Martins. Ainda em ‘Atas e Documentos’, verificamos que Hipólito de Oliveira Campos [rev. Hypóllito, um ex-padre] pregou em Muriaé no ano de 1905” (Strunk, 1968, p.10). Um outro nome ligado à história do metodismo em Muriaé e à pregação, é o do professor Ziller (STRUNK, 1968, p.10-11).

Num apanhado histórico recente, elaborado a partir de depoimentos de leigos e de leigas, no contexto da celebração do centenário do metodismo em Muriaé (datado de 20 de setembro de 2002), os cultos realizados na casa da família Paiva eram feitos por pastores que atendiam as cidades circunvizinhas, como Carangola, Faria Lemos, Cataguases, Dr. Astolfo (hoje Caiapó), além de Tapirussú, como já lembrado acima.

A comunidade metodista na cidade reconhece o ano de 1902 como o do seu estabelecimento. Resta lembrar que, além das dificuldades existentes em Muriaé, uma cidade ainda muito atrasada, sem iluminação, energia elétrica e calçamento, muito cedo, pastores e leigos já buscavam alargar as tendas do metodismo para além dos limites do município.

Conforme depoimentos, coletados pelo rev. Leon Everett Strunk e por outros irmãos e irmãs que ainda estão envolvidos no trabalho de resgate da memória do metodismo em Muriaé, muitos leigos e pastores caminhavam até Belizário, São Domingos, Vermelho, Pirapanema [antigo Camargo], Limeira e Ivay, procurando espalhar o Evangelho, chegando aos arraiais mais remotos.

A comunidade perseverou bastante até adquirir a primeira propriedade. Conforme Quintino L. Paiva, tal propriedade foi uma casa adquirida à Rua Coronel Domiciano, próximo à antiga cadeia da cidade, entre 1910-1912. “A Igreja de Muriaé, no legal [conforme depoimento de Quintino L. Paiva], foi organizada em 1912”. Até então, “as reuniões e os cultos eram realizados aqui e ali, em casas dos crentes e de interessados” (STRUNK, 1968, p.11).

Um item interessante da história do metodismo em Muriaé que poucos conhecem é a realização da Conferência Annual Brasileira, em 1923, o que evidencia historicamente o quanto o metodismo havia se consolidado na cidade e se tornara um pólo de referência da evangelização cristã-protestante, tendo reconhecimento da própria Conferência Annual Brasileira (1923), com relatórios muito animadores (Cf. KENNEDY, 1928, p.166).


BIBLIOGRAFIA:

KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928.
ROCHA, Isnard. Pioneiros e bandeirantes do metodismo no Brasil. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1967.
STRUNK, Leon Everett. Sinopse: 66 anos de metodismo em Muriaé. Muriaé-MG, 18p. Trabalho não publicado.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A INSERÇÃO DO METODISMO EM SANTA LUZIA DO CARANGOLA: CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRESENÇA METODISTA EM CARANGOLA E REGIÃO

O metodismo chegou à Carangola através do trabalho metodista estabelecido em Faria Lemos. Há, portanto, um vínculo histórico e missionário existente entre essas cidades e suas ações em prol do anúncio do Evangelho. Apesar disso, o metodismo carangolense ainda não foi suficientemente pesquisado, especialmente no que tange a formação do primeiro núcleo missionário metodista na cidade.

Com o propósito de promover o conhecimento das nossas origens e fortalecimento da nossa identidade metodista, sugerimos a leitura do trabalho de conclusão de curso de Josny Batista Veloso, Bacharel em Teologia pela FaTeo (Faculdade de Teologia da Igreja Metodista), UMESP, 2004, que pode servir de parâmetro para novas pesquisas – “O metodismo na Zona da Mata mineira e Vale do Rio Doce: enfoque histórico com atenção especial à Igreja Metodista em Carangola”.

A investigação e o desenvolvimento de pesquisas nos jornais mais antigos da região, arquivos públicos municipais, acervos privados e outros órgãos que detenham informações, constituiria uma contribuição ímpar ao metodismo da Zona da Mata. Em continuidade ao nosso trabalho queremos, num primeiro momento, considerar algumas hipóteses sobre os primórdios do metodismo em Carangola. Num segundo momento, mencionaremos alguns elementos sobre o encetamentamento da missão na cidade.


Hipótese sobre os primórdios do metodismo em Carangola

A criação do trabalho metodista em Carangola está vinculada, sem dúvida, ao trabalho metodista de Faria Lemos. A propósito, o metodismo de Faria Lemos é o mais antigo do Vale do Carangola. A Igreja Metodista em Carangola era, por sua vez, uma congregação de Faria Lemos, que alcançou importância no Circuito muito cedo.

Uma das poucas informações fundamentais sobre os primórdios do metodismo em Carangola é a que toca na figura do seu fundador, reverendo Victorino Gonçalves (Cf. VELOSO, 2004, p.48). Corrobora, com esta informação, uma nota histórica publicada no Diálogo Pastoral em outubro de 2005: “A Igreja Metodista em Carangola, MG, em seus primórdios, era congregação do circuito de Faria Lemos, atendida pelo Rev. Vitorino [Victorino] Gonçalves (Cf. Diálogo Pastoral, nº 274, p.9).

Nesse primeiro momento, o trabalho metodista em Carangola não era regular, uma vez que era apenas um ponto do Circuito de Faria Lemos. Como aconteceu em muitos outros lugares, só podemos afirmar que o trabalho nascente era assistido pelo pastor responsável pelo trabalho em Faria Lemos. De qualquer forma, para fins de aprofundamento em pesquisas sobre o metodismo em Carangola, cabe ressaltar que Victorino Gonçalves atendeu o Circuito de Faria Lemos de meado de 1901 até meado de 1903 (Cf. Kennedy, 1928, p.111 e Rocha, 1967, p.189).

Leon Everett Strunk liga a fundação do trabalho metodista em Carangola ao de Faria Lemos; e o de Faria Lemos ao de Dr. Astolfo, hoje Caiapó (Strunk, 1968, p.18). Leon Everett Strunk lembra que Muriaé aparece citada como pertencendo à paróquia de Carangola em 1903, sendo pastor o rev. J. Floriano Martins, conforme Leon Everett Strunk, citando o “Atas e Documentos” de 30/07/1903 (Strunk, 1968, p.10).

O encetamento da missão metodista em Carangola

A inserção ou encetamento da missão metodista em Carangola passou por estágios que favoreceram a solidificação do metodismo nesta cidade e região: 1º estágio – criação do trabalho, com Victorino Gonçalves; 2º estágio – consolidação do trabalho, com Antônio Patrício Fraga.

A Igreja Metodista em Carangola atribui o início do trabalho ao “empenho do Sr. Licurgo Faria e familiares”. Tal família era oriunda do presbiterianismo. Conforme testemunho histórico local, num informativo da celebração dos 80 anos do metodismo em Carangola, a família Faria incentivou algumas famílias metodistas que já residiam na cidade a se reunirem num casarão à rua Pedro de Oliveira (no centro da cidade), a qual se chamava antes rua “15 de Novembro”. É provável que essa seja uma referência ao 2º estágio da fundação do metodismo em Carangola.

Conforme Josny Batista Veloso, Carangola passou a ser sede do Circuito no ano de 1913, sendo pastoreada pelo rev. Antônio Patrício Fraga (Veloso, 2004, p.48). Josny Batista Veloso atribui a Antônio Patrício Fraga a fundação da Igreja Metodista em Carangola. Certamente, Veloso está se referindo à organização da Igreja, e não à criação do ponto missionário ou congregação, que foi com Victorino Gonçalves.

A assistência do pregador ou pastor local a vários núcleos metodistas, especialmente ao trabalho de Muriaé e de Carangola, como indicou Leon Everett Strunk na sua narrativa (Strunk, 1968, p.10), pode ter favorecido a transferência da sede da paróquia de Faria Lemos para Carangola, uma vez que o trabalho de Faria Lemos tinha inicialmente, ao que parece, suas bases missionárias em Cafarnaum, zona rural de Faria Lemos.

Por fim, o marco histórico da organização da Igreja Metodista em Carangola é o dia 13 de novembro de 1921, como lembra James L. Kennedy, em seus extratos históricos sobre a Conferência de 1921 – 36ª Sessão: “A 13 de novembro, foi organizada a Egreja de Santa Luzia de Carangola, com 65 membros. Foi ahi organizada também uma Sociedade de Senhoras” (Cf. Kennedy, 1928, p.162).


Considerações Finais

A inserção do metodismo em Carangola só será mais bem narrada se, ao lado da história eclesial, considerar-se o contexto histórico da cidade. Infelizmente, nosso espaço nessa página não nos dá possibilidade de ir além do que pudemos oferecer. Neste aspecto, sugerimos novamente a leitura do trabalho de Josny Batista Veloso.

Há que se reconhecer que falta um embasamento documental mais amplo para afirmar que já havia um trabalho missionário implantado pontualmente em 1903 na cidade de Carangola. No entanto, há indícios incontestáveis para fomentar uma pesquisa mais abrangente sobre a inserção do metodismo em Carangola e cercanias.


BIBLIOGRAFIA:

IGREJA METODISTA EM CARANGOLA. Diálogo Pastoral. Belo Horizonte, 2005. v. 22, n. 274.
KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928.
ROCHA, Isnard. Pioneiros e bandeirantes do metodismo no Brasil. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1967.
STRUNK, Leon Everett. Sinopse: 66 anos de metodismo em Muriaé. Muriaé-MG, 18p. Trabalho não publicado.
VELOSO, Josny Batista. O metodismo na Zona da Mata mineira e Vale do Rio Doce: enfoque histórico com atenção especial à Igreja Metodista em Carangola. São Bernardo do Campo: 2004, 90p. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Metodista de São Paulo, SBC, SP, 2004.

QUELUZ – “UM PUXADO DO CIRCUITO DE SABARÁ E DA MISSÃO DE BELO HORIZONTE”: A PRESENÇA METODISTA EM CONSELHEIRO LAFAIETE

A incursão do metodismo em Conselheiro Lafaiete é decorrente do estabelecimento do pastor João Evangelista Tavares na cidade. É oportuno comentarmos um pouco sobre quem foi esse pregador, em seguida descrevermos as considerações sobre a presença metodista em Conselheiro Lafaiete, como propomos. Natural de Juiz de Fora, Tavares teve uma infância muito pobre. Com 21 anos foi para o Granbery, onde se preparou para fazer frente aos cursos que viriam depois. Começou a carreira ministerial em 1890, quando a Conferência Anual Brasileira o recebeu em experiência. João E. Tavares foi um dos pastores nacionais que mais tempo serviu a Missão Metodista no Brasil: ele foi o primeiro pastor, entre missionários e nacionais, a atingir 40 anos de ministério na ativa.

Muitos campos missionários metodista parecem ter sido abertos por causa do estabelecimento de um pastor. Como poderá ser visto, a antiga cidade de Queluz (MG), anteriormente chamada “Real Villa de Queluz” e atualmente Conselheiro Lafaiete não foi historicamente um alvo efetivo da atuação missionária metodista. João E. Tavares, conforme registro no Expositor Cristão, “só se estabeleceu no local por causa da sua precária saúde e por causa da salubridade do lugar” (EXPOSITOR CRISTÃO, 14/12/1895, p. 4. citado por BARBOSA, p. 214.). Neste mesmo jornal, uma nota comenta sobre os ares de Queluz e Barbacena, que mereciam a pena de um Gonçalves Dias – “quase bastam para por vida num morto” (Ibidem).

A ação missionária metodista em Conselheiro Lafaiete, segundo comenta John William Tarboux em seu relatório, foi desenvolvida como “um puxado do circuito de Sabará e da missão de Belo Horizonte” (BARBOSA, p. 214. e EXPOSITOR CRISTÃO, 14/12/1895, p. 4.). Isso acentua o caráter provisório da missão, tornando flagrante que a presença metodista na cidade se devia a estadia de um pregador ali. Num aspecto geral, a presença pastoral de João E. Tavares é que determinava a possibilidade de um ação missionária da Igreja Metodista. É fundamental lembrarmos que ainda não foi possível pontuar com exatidão quando Tavares se estabeleceu em Queluz (MG). Há indícios de que tenha sido no final de 1895 ou no início de 1896, o que certamente carece de ser confirmado.

Ao que parece, John William Tarboux, presbítero presidente do Distrito de Minas, esteve realizando trabalhos de evangelização [em Queluz ou Lafayette], ao lado do Rev. João E. Tavares” (BARBOSA, p. 214.). José Carlos Barbosa, em sua narrativa, faz uma indicação pontual interessante: “até que havia um grupo de interessados. Com a mudança do Rev. João E. Tavares, praticamente desapareceu a presença metodista na cidade” (BARBOSA, 2005, p. 214.). Conforme se tem notícia, ele foi designado pela Conferência Annual (1896) para Ouro Preto. A 11ª sessão da Conferência, realizada em Juiz de Fora, em 23 de julho de 1896, registra esse fato.

Um dos registros alusivo à Queluz, elaborado por João E. Tavares, é o que toca a boa vontade do povo, embora não tenha encontrado muitos crentes. A simpatia do povo era um atrativo, além do aspecto referente à salubridade do lugar, tornando o local, como chamou o próprio pregador, um lugar abençoado – “o único lugar em que me tenho dado esplendidamente é neste Queluz abençoado”. Tavares entendia que a sua mudança para Ouro Preto era provisória e temporária, assim como sua transferência era temerária. O desalento do Rev. Tarboux com Lafayette era devido a característica provisória da missão na cidade, dependente da precária saúde do Rev. Tavares e da possibilidade ou não de mantê-lo ali, como foi explicitado acima.

José Carlos Barbosa relembra que “apesar da nomeação, somente no final do de 1896 é que ele toma a decisão de alugar uma residência no seu novo campo de trabalho”. Mas, a insistência de João E. Tavares com Lafayette é flagrante na história do metodismo na cidade. Nomeado para Belo Horizonte, João E. Tavares deu novo impulso ao trabalho no Circuito de Sabará e da Missão de Belo Horizonte, o que obviamente incluía a cidade de Lafayette. É sob seu pastorado também que se planejou a construção do novo templo em Belo Horizonte.

A ação missionária concretizada no Circuito de Belo Horizonte nos anos conseguintes foi sonhada no pastorado de João E. Tavares. Em 1897, no pastorado do Rev. R. C. Dickson, “um bom amigo da causa” doou um terreno para a construção da Igreja Metodista em Belo Horizonte (BARBOSA, p. 154.). No ano conseguinte, a Conferência Anual da Igreja Metodista (1898), realizada em Piracicaba, nomeou novamente o Rev. Tavares, substituindo o Rev. Dickson. Conforme se tem notícia, “o primeiro projeto a surgir na mente do Rev. Tavares foi a construção do templo” (BARBOSA, p. 156.). No entanto, João Evangelista Tavares nunca esqueceu de Lafayette. No ano de 1898, o Rev. João E. Tavares retomou a pregação do Evangelho em Lafayette, assim como esteve pregando em Sete Lagoas (KENNEDY, p. 95.). Mas tarde surge notícia de como o campo de trabalho de João E. Tavares havia aumentado, dividindo-se em pequenos núcleos em lugares como Sabará, Lafayette, Ouro Preto, Miguel Burnier e Rodrigo Silva. Neste último, embora residisse apenas um membro na localidade, Tavares estendia sua assistência a todos, percorrendo todo o Circuito. Como o próprio obreiro lembrou, tendo ainda convite para pregar em Morro Velho, intentando visitar o trabalho em Neves.

Como em Belo Horizonte, a realização das reuniões em Lafayette, no início, não eram regulares. Mesmo assim, surgia ali uma congregação com uma estrutura, embora simples, muito acolhedora e excepcional no que tangia ao trato com o pregador. A insistência de João E. Tavares e o esforço para desenvolver um trabalho regular em Lafayette são lembradas nas páginas do Expositor Cristão, no final do século XIX e, pontualmente, no início do século XX, numa reportagem datada de 1 de fevereiro de 1901. Em seguida, o trabalho aparece figurando como pertencente ao Circuito denominado de “Belo Horizonte e Ouro Preto”, antes reconhecido como Circuito de Sabará e Missão de Belo Horizonte (BARBOSA, p. 214. Veja também EXPOSITOR CRISTÃO, 14/12/1895, p. 4.).

Conselheiro Lafaiete, como pode ser visto, não foi inóspita ao Evangelho historicamente, embora os pregadores e missionários tenham enfrentado e enfrentam até hoje dificuldades de ampliar a visibilidade missionária e alargar as tendas do Evangelho na cidade. A comunidade metodista na cidade reconhece a data histórica de 17 de setembro de 1900 como a de inauguração do trabalho regular. A presença de João Evangelista Tavares, como morador e pregador incansável interessado no desenvolvimento de um núcleo missionário na cidade é uma das recordações históricas mais vívidas e importantes da inserção do metodismo em Queluz de Minas.


BIBLIOGRAFIA:

BARBOSA, José Carlos. Salvar e educar: o metodismo no Brasil do século XIX. Piracicaba: CEPEME, 2005.
KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928.
MEMORIAL DO CENTENÁRIO – Igreja Metodista em Conselheiro Lafaiete 1900-2000. Conselheiro Lafaiete-MG: Texto não publicado.
ROCHA, Isnard. Pioneiros e bandeirantes do metodismo no Brasil. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1967.

A INCURSÃO DO METODISMO EM BARBACENA E A IDÉIA DE CRIAR UMA UNIVERSIDADE

O metodismo iniciou trabalho missionário em Barbacena em setembro de 1895. Conforme James L. Kennedy, o trabalho foi criado pelo rev. J. W. Tarboux, o então p. p. do Distrito de Minas. Em seguida, o rev. W. B. Lee, recém-chegado ao Brasil, foi nomeado para o cargo pastoral do novo campo missionário. Como veremos em seguida, muitas situações novas surgem no contexto do desenvolvimento da missão da Igreja Metodista Episcopal do Sul no Brasil. A decisão de implantar o metodismo em Barbacena é uma das decisões pontuais da Igreja e de seus dirigentes.

José Carlos Barbosa lembra que “a decisão de abrir trabalho metodista em Barbacena foi tomada na Conferência Distrital de Minas, realizada em Juiz de Fora, entre os dias 17 a 19 de janeiro de 1895”. A propósito, neste mesmo ano de 1895, a Igreja Metodista em Juiz de Fora, consagrava a Deus o seu templo, contando com o rev. J. W. Tarboux na direção da igreja local e com a visita do Bispo Granbery, que consagrou o referido templo. Como pode ser lembrado também, o Bispo John C. Granbery foi superintendente da Missão brasileira por vários anos, tendo visitado o Brasil em 1886, quando se organizou a Conferência Anual Brasileira, em 1888, em 1890 e em 1895. A Igreja brasileira o homenageou dando o seu nome ao primeiro educandário (estabelecimento de ensino) metodista de Minas Gerais.

Na sessão da Conferência Anual (1895), no dia 29 de julho, “o rev. J. L. Kennedy apresentou relatório sobre sua viagem missionária ao interior do Estado de São Paulo e disse que uma porta tinha sido fechada para ele (a área da educação) e que a Providência divina estava lhe indicando outro campo de trabalho”. Isso fazia surgir animada discussão entre os conferencistas a respeito da jurisdição territorial. A idéia que pairava naquele contexto era de que as igrejas protestantes, especialmente a metodista e a presbiteriana, deviam evitar evangelizar a localidade onde uma já estivesse presente desenvolvendo algum trabalho missionário.

Como está registrado, na Conferência Distrital de Minas, o relatório da comissão sobre novas missões no Distrito recomendou à Conferência Anual Brasileira a necessidade de abrir a nova missão, indicando que cabia estudo imediato sobre o início da missão em Barbacena ou não. José Carlos Barbosa lembra que pelo fato de não haver “pastores disponíveis, somente na Conferência Anual é que foi referendada a decisão de abertura do novo ponto missionário. Cabe registrar ainda que foi o Bispo Granbery quem nomeou o rev. William B. Lee para o cargo pastoral de Barbacena, antes de sua partida para os EUA (Citado do Expositor Cristão, 31/08/1895, p.3.).

O próprio rev. Lee informa em carta ao Expositor Cristão sobre o início do trabalho:

“De Juiz de Fora chegou o Sr. Tarboux no sábado, 14 do corrente (setembro) para dar começo ao nosso trabalho evangélico nesta cidade de Barbacena. No dia da sua chegada tivemos pouco tempo para espalhar a notícia dos cultos, porém publicou-se na Folha de Barbacena reuniões para o domingo ao meio dia, como também às 7 horas da noite. No domingo de manhã andamos espalhando exemplares do tratado do irmão Tarboux, ‘Ao respeitável Povo do Brasil’. No primeiro culto arranjou-se a sala com assentos para 42 pessoas. Porém houve uma assistência, número contado, de 70 pessoas, havendo um bom número de estudantes das diversas escolas da cidade, não podendo eles voltar de noite. Para o culto da noite esperava-se número maior de modo que colocou-se na sala todas as cadeiras da nossa casa. Mas atualmente só assistiram umas 65 pessoas. Porém a congregação da noite nos deu maior esperança visto que todos ficaram por todo o culto prestando muita atenção ao sermão.

O rev. John W. Tarboux revelou-se muito otimista e confiante no trabalho que se iniciava. A avaliação dele era proveniente da atenção e apreciação que experimentou. O missionário comenta em seguida o trabalho realizado em Barbacena, avaliando a casa e as condições do novo campo: a casa que o irmão Lee escolheu é boa, ampla e bem localizada, com uma sala bonita. Na sala das casas é que os missionários acolhiam os ouvintes do Evangelho que concorriam para ouvir a pregação. No final, Tarboux tece uma palavra carinhosa ao missionário e ao povo de Barbacena: “Que Deus abençoe muito o trabalho neste novo campo e ajude o irmão Lee a ficar mestre do português e dos corações do bom povo de Barbacena em bem pouco tempo”.

Conforme se tem notícia, no ano seguinte o rev. William B. Lee principiou a pregação em português. O rev. John W. Tarboux mais uma vez elaborou palavras de apreço ao missionário W. B. Lee e ao povo da cidade: “Ele tem de ser feliz, por força, com uma congregação tão polida, tão atenciosa, tão inteligente como é a de Barbacena. Que nosso Deus e Salvador abençoe sempre ao pregador e ao povo! Que o Espírito Santo ilumine os seus corações e que haja muitas almas convertidas a Jesus entre aquele povo (Citado do Expositor Cristão, 27/06/1896, p.3.).

Uma das últimas boas intenções do rev. John W. Tarboux para com Barbacena foi o estímulo ao projeto de uma universidade metodista. Ele acreditava profundamente na importância do trabalho educacional desenvolvido pela Igreja. Na verdade, os esforços mais sérios em prol de tal projeto começaram em 1893, perdurando por vários anos. Conforme José Carlos Barbosa, a “Folha de Barbacena”, jornal local, comentou de forma apreciativa as visitas do Bispo Charles B. Galloway e do rev. John W. Tarboux para tratar do assunto. O clima propício, se comparado ao clima da terra de origem dos missionários, parecia influenciar bastante na escolha em se estabelecer uma universidade metodista na cidade, especialmente porque Alexander Von Humbolt e inúmeros outros viajantes europeus, além de diversos pastores metodistas terem exaltado a salubridade de Barbacena. O jornal local aludiu reverentemente a visita do Bispo Galloway e da reunião que se realizou na casa do missionário W. B. Lee, tendo se juntando ali vários representantes da Câmara Municipal e de diversas classes sociais para ouvir o hóspede (missionário Lee). Infelizmente o projeto para a criação da univesidade não vingou, mas a missão reconheceu a cidade como um espaço missionário de elevada importância.



BIBLIOGRAFIA:

BARBOSA, José Carlos. Salvar e educar: o metodismo no Brasil do século XIX. Piracicaba: CEPEME, 2005.
KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928.
ROCHA, Isnard. Pioneiros e bandeirantes do metodismo no Brasil. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1967.