quarta-feira, 24 de setembro de 2008

QUELUZ – “UM PUXADO DO CIRCUITO DE SABARÁ E DA MISSÃO DE BELO HORIZONTE”: A PRESENÇA METODISTA EM CONSELHEIRO LAFAIETE

A incursão do metodismo em Conselheiro Lafaiete é decorrente do estabelecimento do pastor João Evangelista Tavares na cidade. É oportuno comentarmos um pouco sobre quem foi esse pregador, em seguida descrevermos as considerações sobre a presença metodista em Conselheiro Lafaiete, como propomos. Natural de Juiz de Fora, Tavares teve uma infância muito pobre. Com 21 anos foi para o Granbery, onde se preparou para fazer frente aos cursos que viriam depois. Começou a carreira ministerial em 1890, quando a Conferência Anual Brasileira o recebeu em experiência. João E. Tavares foi um dos pastores nacionais que mais tempo serviu a Missão Metodista no Brasil: ele foi o primeiro pastor, entre missionários e nacionais, a atingir 40 anos de ministério na ativa.

Muitos campos missionários metodista parecem ter sido abertos por causa do estabelecimento de um pastor. Como poderá ser visto, a antiga cidade de Queluz (MG), anteriormente chamada “Real Villa de Queluz” e atualmente Conselheiro Lafaiete não foi historicamente um alvo efetivo da atuação missionária metodista. João E. Tavares, conforme registro no Expositor Cristão, “só se estabeleceu no local por causa da sua precária saúde e por causa da salubridade do lugar” (EXPOSITOR CRISTÃO, 14/12/1895, p. 4. citado por BARBOSA, p. 214.). Neste mesmo jornal, uma nota comenta sobre os ares de Queluz e Barbacena, que mereciam a pena de um Gonçalves Dias – “quase bastam para por vida num morto” (Ibidem).

A ação missionária metodista em Conselheiro Lafaiete, segundo comenta John William Tarboux em seu relatório, foi desenvolvida como “um puxado do circuito de Sabará e da missão de Belo Horizonte” (BARBOSA, p. 214. e EXPOSITOR CRISTÃO, 14/12/1895, p. 4.). Isso acentua o caráter provisório da missão, tornando flagrante que a presença metodista na cidade se devia a estadia de um pregador ali. Num aspecto geral, a presença pastoral de João E. Tavares é que determinava a possibilidade de um ação missionária da Igreja Metodista. É fundamental lembrarmos que ainda não foi possível pontuar com exatidão quando Tavares se estabeleceu em Queluz (MG). Há indícios de que tenha sido no final de 1895 ou no início de 1896, o que certamente carece de ser confirmado.

Ao que parece, John William Tarboux, presbítero presidente do Distrito de Minas, esteve realizando trabalhos de evangelização [em Queluz ou Lafayette], ao lado do Rev. João E. Tavares” (BARBOSA, p. 214.). José Carlos Barbosa, em sua narrativa, faz uma indicação pontual interessante: “até que havia um grupo de interessados. Com a mudança do Rev. João E. Tavares, praticamente desapareceu a presença metodista na cidade” (BARBOSA, 2005, p. 214.). Conforme se tem notícia, ele foi designado pela Conferência Annual (1896) para Ouro Preto. A 11ª sessão da Conferência, realizada em Juiz de Fora, em 23 de julho de 1896, registra esse fato.

Um dos registros alusivo à Queluz, elaborado por João E. Tavares, é o que toca a boa vontade do povo, embora não tenha encontrado muitos crentes. A simpatia do povo era um atrativo, além do aspecto referente à salubridade do lugar, tornando o local, como chamou o próprio pregador, um lugar abençoado – “o único lugar em que me tenho dado esplendidamente é neste Queluz abençoado”. Tavares entendia que a sua mudança para Ouro Preto era provisória e temporária, assim como sua transferência era temerária. O desalento do Rev. Tarboux com Lafayette era devido a característica provisória da missão na cidade, dependente da precária saúde do Rev. Tavares e da possibilidade ou não de mantê-lo ali, como foi explicitado acima.

José Carlos Barbosa relembra que “apesar da nomeação, somente no final do de 1896 é que ele toma a decisão de alugar uma residência no seu novo campo de trabalho”. Mas, a insistência de João E. Tavares com Lafayette é flagrante na história do metodismo na cidade. Nomeado para Belo Horizonte, João E. Tavares deu novo impulso ao trabalho no Circuito de Sabará e da Missão de Belo Horizonte, o que obviamente incluía a cidade de Lafayette. É sob seu pastorado também que se planejou a construção do novo templo em Belo Horizonte.

A ação missionária concretizada no Circuito de Belo Horizonte nos anos conseguintes foi sonhada no pastorado de João E. Tavares. Em 1897, no pastorado do Rev. R. C. Dickson, “um bom amigo da causa” doou um terreno para a construção da Igreja Metodista em Belo Horizonte (BARBOSA, p. 154.). No ano conseguinte, a Conferência Anual da Igreja Metodista (1898), realizada em Piracicaba, nomeou novamente o Rev. Tavares, substituindo o Rev. Dickson. Conforme se tem notícia, “o primeiro projeto a surgir na mente do Rev. Tavares foi a construção do templo” (BARBOSA, p. 156.). No entanto, João Evangelista Tavares nunca esqueceu de Lafayette. No ano de 1898, o Rev. João E. Tavares retomou a pregação do Evangelho em Lafayette, assim como esteve pregando em Sete Lagoas (KENNEDY, p. 95.). Mas tarde surge notícia de como o campo de trabalho de João E. Tavares havia aumentado, dividindo-se em pequenos núcleos em lugares como Sabará, Lafayette, Ouro Preto, Miguel Burnier e Rodrigo Silva. Neste último, embora residisse apenas um membro na localidade, Tavares estendia sua assistência a todos, percorrendo todo o Circuito. Como o próprio obreiro lembrou, tendo ainda convite para pregar em Morro Velho, intentando visitar o trabalho em Neves.

Como em Belo Horizonte, a realização das reuniões em Lafayette, no início, não eram regulares. Mesmo assim, surgia ali uma congregação com uma estrutura, embora simples, muito acolhedora e excepcional no que tangia ao trato com o pregador. A insistência de João E. Tavares e o esforço para desenvolver um trabalho regular em Lafayette são lembradas nas páginas do Expositor Cristão, no final do século XIX e, pontualmente, no início do século XX, numa reportagem datada de 1 de fevereiro de 1901. Em seguida, o trabalho aparece figurando como pertencente ao Circuito denominado de “Belo Horizonte e Ouro Preto”, antes reconhecido como Circuito de Sabará e Missão de Belo Horizonte (BARBOSA, p. 214. Veja também EXPOSITOR CRISTÃO, 14/12/1895, p. 4.).

Conselheiro Lafaiete, como pode ser visto, não foi inóspita ao Evangelho historicamente, embora os pregadores e missionários tenham enfrentado e enfrentam até hoje dificuldades de ampliar a visibilidade missionária e alargar as tendas do Evangelho na cidade. A comunidade metodista na cidade reconhece a data histórica de 17 de setembro de 1900 como a de inauguração do trabalho regular. A presença de João Evangelista Tavares, como morador e pregador incansável interessado no desenvolvimento de um núcleo missionário na cidade é uma das recordações históricas mais vívidas e importantes da inserção do metodismo em Queluz de Minas.


BIBLIOGRAFIA:

BARBOSA, José Carlos. Salvar e educar: o metodismo no Brasil do século XIX. Piracicaba: CEPEME, 2005.
KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928.
MEMORIAL DO CENTENÁRIO – Igreja Metodista em Conselheiro Lafaiete 1900-2000. Conselheiro Lafaiete-MG: Texto não publicado.
ROCHA, Isnard. Pioneiros e bandeirantes do metodismo no Brasil. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1967.

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