sexta-feira, 15 de maio de 2009

A CHEGADA DO METODISMO A SANTA MARIA DE ITABIRA E A INTENÇÃO DE EXPANSÃO DO METODISMO PARA O NORTE DE MINAS

A chegada do metodismo a determinadas regiões e/ou cidades mineiras seguia um percurso específico no final do século XIX e início do século XX. Naquele contexto, os missionários metodistas pretendiam chegar ao Norte do Estado de Minas, defendendo claramente um itinerário para alcançar este objetivo. Embora as intenções dos missionários nos pareçam audaciosas, como já mencionamos anteriormente, chegar àquela região significava apenas embarcar em mais uma aventura missionária.

Procuraremos, assim, descrever algumas expectativas, intenções e ações do movimento metodista naquele contexto, o qual se caracterizou genuinamente audaz e missionário nas terras das alterosas, num tempo em que os pregadores só contavam com a própria condição de saúde e vigor físico para fazer imensas caminhadas ou então com veículos de tração animal ou, em último caso, com a expansão da linha férrea, para cumprir cada meta proposta no projeto de expansão missionária da Igreja.

Os primórdios da pregação evangélica em Santa Maria de Itabira

O começo da pregação evangélica em Santa Maria [de Itabira] remonta aos idos de 1908-1909 e possui ligação inicial com a pessoa do Sr. Kulman, um cristão norte-americano, de confissão batista. O Sr. Kulman chegou à Santa Maria para implantar linhas telegráficas entre Santa Maria e Ferros, contratado como engenheiro da companhia telegráfica (Diálogo Pastoral, 2003, p. 4.). Ao mesmo tempo em que desenvolvia seu trabalho profissional, o Sr. Kulman iniciou um trabalho de pregação do Evangelho às famílias residentes nas fazendas, em Santa Maria de Itabira.

Conforme se tem notícia, o primeiro a acolher a mensagem do Evangelho foi o Sr. Pedro Bicudo, seguido de sua mulher, D. Nhanhá, e seu filho, Claudomiro, moradores de Santa Maria, residentes na Fazenda Vitória (Diálogo Pastoral, 2003, p. 4.). Depois da conversão, Pedro Bicudo logo se pôs a evangelizar seus amigos. Nas imediações da Fazenda Vitória, ali mesmo onde morava, começou a evangelizar alguns conhecidos. O primeiro a ser atingido pelo testemunho do irmão Pedro Bicudo foi o Sr. Manoel Ignácio Oliveira (o Neco Rato), um católico zeloso da localidade.

Assim, todas as tardes, quando o Sr. Manuel Ignácio Oliveira passava na fazenda para ir à Igreja do Chaves para “tirar a reza”, o irmão Pedro Bicudo chegava à estrada e interpelava o Sr. Manuel, mostrando “na Bíblia que ele estava errado em adorar os santos” (O Despenseiro – Boletim local – IM em Stª Maria do Itabira, 1992). Tendo sido caracterizada uma insistência por parte do irmão Pedro Bicudo em evangelizar o sr. Manuel, este procurou outro caminho para não se encontrar mais com o evangelizador contumaz e insistente. Durante o ano de 1908, Manuel Ignácio Oliveira, conforme suas anotações auto-biográficas, já tinha recebido vários jornais evangélicos do seu amigo Pedro Bicudo.

Por ocasião do Batismo de Pedro Bicudo, Manuel Ignácio Oliveira, sendo convidado pelo amigo, foi assistir o Batismo no rio tanque, o qual foi realizado por 2 (dois) pastores batistas. Destacamos a seguir seus sentimentos iniciais em relação aos protestantes: “não fui [ao Batismo] por causa de religião, mas para servir ao amigo Pedro Bicudo”. Mas, ao ouvir o sermão e assistir o Batismo do amigo, dei o meu primeiro passo... (Oliveira, Minha Vida – Texto não publicado).

George Daniel Parker, Manuel Ignácio de Oliveira e as origens do metodismo em Santa Maria do Itabira

George Daniel Parker (1872-1958), mais conhecido como G. D. Parker, era natural de New Orleans, Louisiana, EUA, nascido aos 17 de agosto de 1872. Chegou ao Brasil como missionário em 8 de outubro de 1901, sendo nomeado para a congregação do Catete no Rio de Janeiro (Betts, p. 30.). O missionário G. D. Parker foi recebido na Conferência Anual no ano seguinte, transferido da Conferência Louisiana, EUA (Cf. Kennedy, p 114. e Vitrais da Igreja Metodista Wesley, p.17.).

Parker, ao que parece, concluiu seu período de experiência pastoral no Brasil e, então, na 18ª Conferência Anual Brasileira, realizada em Piracicaba, em 30 de julho de 1903, recebeu suas credenciais de presbítero, tornando-se a partir de então pregador itinerante da Conferência (Cf. Kennedy, p 118.). Conforme João Nelson Betts, “dois anos após a sua chegada”, Parker foi nomeado “Secretário das Ligas Epworth” (Cf. Vitrais da Igreja Metodista Wesley, p.17.). Além disso, o missionário foi redator da revista “Juvenil” e gerente da Casa Publicadora, no Rio de Janeiro.

Em 1906, o missionário foi eleito um dos secretários da Conferência Anual Brasileira ao lado de João E. Tavares e Antônio C. da Fonseca (Cf. Kennedy, p 118.). No ano eclesiástico de 1907-1908, G. D. Parker foi nomeado para o Distrito de Bello Horizonte, acumulando os cargos pastorais de “Sabará e Morro Velho” e “Sete Lagoas”, além da Secretaria da Liga Epworth (Cf. Conferencia Annual da Egreja Methodista Episcopal do Sul no Brazil, 1908, p. 35.).

Neste ínterim, germinaram as sementes do trabalho metodista em Santa Maria de Itabira. No ano eclesiástico de 1908-1909, o missionário Parker é designado presbítero presidente do Distrito de Bello Horizonte, acumulando novamente o cargo pastoral de Sabará e Morro Velho e a Secretaria da Liga Epworth (Cf. Conferencia Annual da Egreja Methodista Episcopal do Sul no Brazil, 1909. p. 36.). Conforme testemunho do irmão Manuel Ignácio de Oliveira, foi precisamente em maio de 1909, assim que chegaram em Santa Maria de Itabira os pastores G. D. Parker e [Elias] Escobar Júnior, que abraçou a fé evangélica, realizando a pública profissão de fé juntamente com 3 ou 4 parentes.

A experiência de conversão de Manuel Ignácio Oliveira, tomada na sua inteireza, denota o quanto a evangelização precisa ser caracterizada pelo entusiasmo e pela perseverança. Manuel Ignácio veio a ser o primeiro metodista de Santa Maria de Itabira, arrolado no Livro Rol da Igreja em 1º de maio de 1909, recebido por profissão de fé pelo Rev. George Daniel Parker. Não tardou para que o trabalho missionário em Santa Maria de Itabira fizesse franca expansão missionária. Em 22 de abril de 1911, conforme James L. Kennedy, ocorre a organização da “Egreja Metodista de Santa Maria, circuito de Sete Lagoas, districto de Bello Horizonte” (Cf. Kennedy, p 142.). Na Conferência Distrital de Belo Horizonte, era evidente o estado espiritual das igrejas, que apresentaram, com poucas exceções, bons relatórios.

Considerações Finais

No mais, destacamos que os netos de Manuel Ignácio e Pedro Bicudo são membros ativos na comunidade, conforme relato da Igreja Metodista em Santa Maria de Itabira (Despenseiro – Boletim local – IM em Stª Maria de Itabira – 1992). Em relação a G. D. Parker, lembramos que o missionário “dedicou 36 anos de sua vida ao pastorado no Brasil, passando pelos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Conforme João Nelson Betts, “de 1930 a 1934 [G. D. Parker] exerceu [ainda] a função de Secretário Geral de Educação Cristã”.

Bibliografia:

CONFERENCIA ANNUAL DA EGREJA METHODISTA EPISCOPAL DO SUL NO BRAZIL. Annuario 1907-1908. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Metodista, 1908.
CONFERENCIA ANNUAL DA EGREJA METHODISTA EPISCOPAL DO SUL NO BRAZIL. Annuario 1908-1909. São Paulo, Typografia Brazil de Rothschild & Co, 1909.
O DESPENSEIRO – Boletim Informativo da Igreja Metodista em Santa Maria de Itabira. Santa Maria de Itabira, Mimeo, 1992
KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo, Imprensa Metodista, 1928.
METODISMO EM SANTA MARIA DE ITABIRA VAI COMPLETAR 94 ANOS. Diálogo Pastoral. Belo Horizonte, 2003. v. 21, n. 244.
OLIVEIRA, Manuel Ignácio. Minha vida. Santa Maria de Itabira. (Texto não publicado)
VITRAIS DA IGREJA METODISTA WESLEY. Porto Alegre, [S.n., s.d.].

quarta-feira, 22 de abril de 2009

OS CARGOS PASTORAIS DE MATOZINHOS, SETE LAGOAS E CORDISBURGO: A INTENÇÃO DE EXPANSÃO DO METODISMO PARA O NORTE DE MINAS

Numa perspectiva geral, a missão metodista estabelecida em Belo Horizonte no final do século XIX e início do XX apresentava intenções declaradas, senão audaciosas de chegar ao Norte do Estado de Minas Gerais a partir do metodismo implantado na capital. Apesar da marcante distância geográfica entre Belo Horizonte e as cidades do Norte de Minas, chegar àquela região significava apenas embarcar em mais uma aventura missionária para os pioneiros metodistas que desbravavam o rústico campo mineiro. A caminhada dos missionários foi muitas vezes extenuante, no entanto, a disposição física e espiritual caracterizava a caminhada que se renovava a cada nova etapa do estabelecimento da missão através de cada novo campo missionário que era criado com o auxílio da Graça de Deus.

A motivação missionária

A motivação missionária dos missionários metodistas era, de fato, contagiante. Temos notícias de que o povo metodista belo-horizontino, embora pequeno numericamente, estava extremamente envolvido com a causa do Evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo. Evidência disso é o trabalho missionário desprendido de Manoel Torquato de Oliveira, no Bairro do Quartel, em Santa Efigênia, ou ainda o do carpinteiro Cândido Mendes de Magalhães, em Venda Nova, entre outros que não tivemos ainda a oportunidade de mencionar.

Os registros do ano eclesiástico de 1898-1899, conforme James L. Kennedy, observando a Conferência Anual Brasileira, favorecem uma impressão muito positiva da caminhada do metodismo em Belo Horizonte e a razão da motivação missionária existente no seio da Igreja Metodista. É admitida a organização de sociedades auxiliadoras de senhoras em Santa Rita do Passa Quatro, bem como em Uberaba (KENNEDY, p.95.).

Outra notícia é que nos fins de novembro de 1898 os metodistas pregaram o Evangelho em Anta e em Santo Antônio do Chiador, através dos revs. Tarboux e Lander. Assim, o metodismo chegou à cidade de Anta através dos pregadores estabelecidos em Minas Gerais. Ao que tudo indica, foi Tarboux, o presidente do Distrito de Minas, quem pregou o Evangelho pela primeira vez na cidade de Anta. Para quem não sabe, John William Tarboux veio a ser em 1930 o primeiro bispo eleito pela Igreja metodista brasileira, quando da autonomia do metodismo brasileiro.

James L. Kennedy lembra, sobretudo, que “em maio [de 1899], no dia 18, reuniu-se em Bello Horizontte a Conferencia Distrital de Minas, sob a presidência de J. W. Tarboux. Esta Conferencia foi muito animadora e espiritual. Naquella ocasião havia em todo o distrito uns 784 membros professos e havia por todo o território uma revivificação espiritual e novos campos foram abertos” (KENNEDY, p.95.). O trabalho metodista em Uberaba, além de organizar uma sociedade auxiliadora de senhoras no ano eclesiástico de 1898-1899, lançou “com solenidade e singeleza a pedra angular do templo methodista em Uberaba” em maio de 1899 (KENNEDY, p.95.).

Raízes do metodismo em Sete Lagoas, Matozinhos, Cordisburgo e Curvelo

O trabalho metodista em Belo Horizonte vivenciava lá pelos idos de 1898, um dos seus melhores momentos. James L. Kennedy atesta isso, comentando: “o trabalho em Bello Horizonte tomou novo impulso sob o pastorado de J. E. Tavares. Planejaram novas cousas e começaram preparativos para a construção do novo templo. O dr. Tavares também conseguiu pregar o Evangelho em Lafayette e Sete Lagoas” (KENNEDY, p.95.). Aliás, uma das referências históricas de intenção de uma frente missionária em Sete Lagoas é exatamente essa citada pelo rev. J. L. Kennedy.

José Carlos Barbosa confirma essa informação comentando uma nota do Expositor Cristão (18/06/1898), na qual se percebe o caminho missionário apontado pela Igreja naquele contexto. Conforme José Carlos Barbosa “no relatório preparado no primeiro semestre de 1898 pela Comissão sobre Território e Distrito e apresentado à Conferência Distrital de Juiz de Fora, entre diversas recomendações, consta que se crie novo campo missionário começando com a cidade de Sete Lagoas e seguindo por todo o norte de Minas” (BARBOSA, p.246.).

No entanto, a chegada dos metodistas em Sete Lagoas e Matozinhos foi anterior às decisões da Conferência Distrital e à investida de João E. Tavares. “Explicando a origem da presença metodista nessas localidades, J. L. Bruce assinala que a primeira visita foi feita por ele e por McFarland em 1892. Na ocasião tiveram uma boa recepção em Matozinhos, distribuíram Bíblias, falaram com alguns moradores e ainda realizaram cultos no hotel e também no teatro municipal” (BARBOSA, p.246-247.).

Em relação a Sete Lagoas, Bruce relembra que a recepção não foi de longe nem semelhante à que tiveram em Matozinhos (BARBOSA, p.247.). Para resumirmos, os missionários “foram expulsos do hotel e da cidade sob instigação do padre católico do lugar e não conseguiram realizar nenhum culto público. O que fizeram foi conversar com poucas pessoas da cidade” (Anual Report citado por BARBOSA, p.247.).

Conforme José Carlos Barbosa, há outra versão da história das primeiras incursões dos missionários metodistas em Matozinhos e em Sete Lagoas. Tomamos a narrativa de José Carlos Barbosa, citando o Jornal Expositor Cristão: “Em outra versão, publicada no Expositor Cristão, J. L. Bruce fala que em nenhuma das duas cidades eles encontraram boa acolhida. Sobre Matozinhos ele diz: ’Há quatro anos estive neste lugar em companhia do irmão McFarland. Parece que fomos os primeiros pregadores do Evangelho que até aquele tempo tinham ido a este lugar. Não fizemos conferências públicas naquela ocasião, mas segundo o modo adotado por Jesus, passamos por várias casas conversando com o povo” (BARBOSA, p.247.).
Apesar de alguns desencontros nas narrativas, como pôde ser observado, é preponderante a impossibilidade de uma ação missionária mais caracterizada nas cidades de Matozinhos e Sete Lagoas. No tocante ao cargo pastoral de Cordisburgo, há que se incluir aí Curvelo, encontramos uma referência à nomeação de Elias Escobar no Annuário de 1907-1908. Infelizmente, a investida missionária teve que ser recalculada no ano seguinte. James L. Kennedy lembra que “foi resolvido fazer chegar ao conhecimento do Bispo, presidente da próxima Conferencia Annual, as conveniências de fundir em um só circuito os cargos de Sete Lagoas e Cordisburgo” (KENNEDY, p.136). A despeito das adversidades que a Missão enfrentava, o propósito de chegar ao Norte do Estado de Minas mantinha-se aberto e acalorado pelos principais animadores do Distrito de Belo Horizonte, representados nas figuras dos presbíteros presidentes da Missão nos Distritos. Ademais, podemos dizer que o estado da Igreja era bastante animador, e se não se expandia mais era devido à deficiência de trabalhadores efetivos. É tudo o que podemos sintetizar sobre a Missão em Minas Gerais, assim como no âmbito geral da Conferência Anual Brasileira.

BIBLIOGRAFIA

BARBOSA, José Carlos. Salvar e educar: O metodismo no Brasil do século XIX. Piracicaba: Cepeme, 2005.
CONFERENCIA ANNUAL DA EGREJA METHODISTA EPISCOPAL DO SUL DO BRAZIL. Annuario 1907-1908. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Metodista. 1908.
CONFERÊNCIA ANNUAL DA EGREJA METHODISTA EPISCOPAL DO SUL DO BRAZIL. Annuario 1908-1909. São Paulo: Typografia Brazil de Rothschild & Co. 1909.
KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

MEMÓRIAS DO TRABALHO METODISTA NO BAIRRO DO QUARTEL: Aspectos Históricos da Egreja Methodista dos Militares (Sta. Efigênia)


É essencial lembrarmos que a história da chegada do metodismo a Belo Horizonte se confunde com o estabelecimento da nova capital mineira. De certo modo, a emergência da nova capital influenciou a chegada do metodismo à freguesia de Curral Del Rey, o antigo nome de Belo Horizonte. Outro fator colaborador foi a expansão da Estrada de Ferro Central do Brasil – a antiga D. Pedro II. Há indícios de que a migração dos cidadãos de Ouro Preto para Belo Horizonte foi determinante para a expansão da cidade no final do século XIX e início do XX. Não é por acaso, também, que o metodista fundador do trabalho no Bairro do Quartel seja oriundo de Ouro Preto e que tenha sido um militar.

Os antecedentes históricos da Igreja do Quartel

Umas das notícias sobre as origens da “Egreja Methodista dos Militares” é o testemunho de Raymundo Lopes, no Expositor Cristão, no qual presta homenagem a um dos ilustres fundadores do trabalho. Conforme as palavras do Sr. Raymundo Lopes, “logo que chegou à Belo Horizonte, Manoel Torquato de Oliveira”, o próprio Raymundo Lopes e o rev. João Evangelista Tavares iniciaram o trabalho de “evangelização no Bairro dos Militares” (Cf. EXPOSITOR CRISTÃO 06/06/1918). A partir de tal informação, fomos levados a recorrer a registros que atestam a passagem do rev. João Evangelista Tavares por Belo Horizonte naquele contexto.

Conforme relatório do prefeito Bernardo Pinto Monteiro, o qual consta no Arquivo Público de Belo Horizonte (Índice de relatórios ano de 1902 - Item 3.12 – vol.1 – 1902 – Construção da igreja Metodista. p. 53), o Sr. João Evangelista Tavares era o representante da instituição religiosa, que recebeu gratuitamente uma área de 14.273 metros quadrados no quarteirão nº 2 da 1ª secção urbana. Segundo se tem notícia, João E. Tavares ganhou o primeiro terreno que um grupo protestante obteve da intendência da capital, deixando a capital mineira antes de 1904. Sabe-se que o rev. James L. Kennedy inaugurou o primeiro templo da Igreja Metodista Central em 31 de dezembro de 1904 (KENNEDY, p.123.).

Cabe-nos pontuar, entretanto, que o rev. João Evangelista Tavares teve a sua primeira designação para o trabalho em Belo Horizonte na 10ª Conferência Anual, em 25 de julho de 1895 (KENNEDY, p.86.), e depois, durante o período de 1898-1899, conforme nomeação da Conferência Anual Brasileira, realizada em Piracicaba, em 1898 (BARBOSA, p.157.). Conjectura-se que a nomeação do rev. João Evangelista Tavares se perpetuou até 1902, porque somente em 1902 é que Tavares conseguiu a doação do terreno da Igreja Metodista Central e do Colégio Izabela Hendrix, e é provável que nesse interregno, iniciou o trabalho metodista no Bairro do Quartel, em Santa Efigênia, na companhia do sr. Manoel Torquato de Oliveira.

Manoel Torquato de Oliveira e os primórdios da Igreja do Quartel

O trabalho missionário do Bairro do Quartel, hoje Bairro Santa Efigênia, teve o seu início por volta do final do século XIX ou início do XX. Em parte, a inauguração da frente missionária se deve ao engajamento missionário do irmão Manoel Torquato de Oliveira, que veio para Belo Horizonte, transferido da cidade de Ouro Preto. Somos levados a considerar essa hipótese, uma vez que o passamento (falecimento) do irmão Manoel Torquato de Oliveira se deu em 24 de setembro de 1901.

Segundo testemunho de Raymundo Lopes no Expositor Cristão, depois de algum tempo de árduo trabalho e de constantes perseguições, Manoel Torquato de Oliveira abandonou a carreira militar, quando poderia ter promoção, para se dedicar à pregação. Porém, o irmão Torquato veio a cair enfermo e ficou impossibilitado de tomar parte nos cultos que se promoviam na Igreja Central. Foi então que solicitou ao rev. João Evangelista Tavares que “organizasse em sua casa uma Escola Dominical e cultos semanais” (Cf. EXPOSITOR CRISTÃO 06/06/1918).

Provavelmente, o que ocorreu com o trabalho missionário no Bairro do Quartel é o que havia ocorrido com a fundação de outras frentes missionárias, já que nem sempre a organização de uma unidade local da Igreja Metodista ocorria no mesmo dia da fundação ou criação do trabalho missionário. Aliás, esse é um aspecto do trabalho de pesquisa para o qual devemos sempre estar alertas.

A organização da Igreja dos Militares

A organização da Igreja do Quartel, conhecida ainda como Igreja Metodista dos Militares, em Belo Horizonte, remonta ao ano de 1908. Conforme James L. Kennedy, em “Cincoenta Annos de Methodismo no Brasil”, “no dia 3 de julho [de 1908] foi organizada a Egreja Methodista dos Militares em Belo Horizonte” (KENNEDY, p.137.). É fundamental entendermos a organização da Igreja do Quartel, que é posterior, portanto, à passagem de João Evangelista Tavares por Belo Horizonte. Em outras palavras, é preponderante afirmar que o Rev. João Evangelista Tavares não foi pastor em Belo Horizonte durante os períodos de 1907-1908 e 1908-1909.

Um dos mais antigos registros conservados que retrata a história de fundação de várias igrejas locais, as atividades dos circuitos e distritos e o assentamento de registros das decisões das conferências da Igreja Metodista é o Annuario, publicado sob orientação da “Conferencia Annual da Egreja Methodista Episcopal do Sul”, seja pela própria casa publicadora da Igreja Metodista ou por uma tipografia indicada.

Pesquisando os Annuarios de 1907-1908 e 1908-1909 levantamos tais dados, que atestam seguramente as informações históricas de James L. Kennedy. No mais, o Annuario de 1908-1909 atesta que W. J. Frost foi nomeado para a Igreja do Quartel. Outra informação histórica adicional é que W. J. Frost era oriundo da Conferência de Los Angeles, vindo transferido para a Conferência Brasileira (KENNEDY, p. 137.). Mais tarde, na Conferência de 1911, Frost foi descontinuado, deixando de figurar como membro da Conferência Anual Brasileira (KENNEDY, p. 143.).

Considerações Finais

A Igreja Metodista em Santa Efigênia tem, porém, na sua memória, a lembrança da figura do rev. Osório Couto Caire. Conforme a história local, o templo foi consagrado quando receberam o primeiro pastor que, segundo eles, foi o rev. Caire. Caberia salvaguardar que W. J. Frost foi, de fato, o primeiro pastor nomeado para a Igreja do Bairro do Quartel, na Conferência Anual Brasileira, em 1908. Ademais, temos informação, conforme James L. Kennedy, que “em novembro [de 1918] foi inaugurado o templo da Egreja Methodista dos Militares em Belo Horizonte” (KENNEDY, p. 157.). Osório Couto Caire era o pastor local da Igreja do Quartel no contexto da inauguração do templo em 1918. Isso sugere uma correção na história do centenário do templo da Igreja Metodista em Santa Efigênia, que possui sim 100 anos de Igreja organizada e 90 anos de templo inaugurado e dedicado ao serviço da pregação do Evangelho.


Bibliografia:


BARBOSA, José Carlos. Salvar e educar: o metodismo no Brasil do século XIX. Piracicaba: Cepeme, 2005.
CONFERENCIA ANNUAL DA EGREJA METHODISTA EPISCOPAL DO SUL NO BRASIL. Annuario 1907-1908. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Metodista. 1908.
CONFERENCIA ANNUAL DA EGREJA METHODISTA EPISCOPAL DO SUL NO BRASIL. Annuario 1908-1909. São Paulo: Typografia Brazil de Rothschild & Co. 1909.
FONTES, Ernestina Célia. Centenário da Igreja Metodista em Santa Efigênia [Mensagem pessoal]. Mensagem recebida por em 14 de novembro de 2008.
KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928.
RELATÓRIOS DE PREFEITOS 1899-1902. Arquivo Público de Belo Horizonte. Índice de relatórios ano de 1902 - Item 3.12 - vol.1 - 1902 - Construção da Igreja Metodista.