sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

MEMÓRIAS DO TRABALHO METODISTA NO BAIRRO DO QUARTEL: Aspectos Históricos da Egreja Methodista dos Militares (Sta. Efigênia)


É essencial lembrarmos que a história da chegada do metodismo a Belo Horizonte se confunde com o estabelecimento da nova capital mineira. De certo modo, a emergência da nova capital influenciou a chegada do metodismo à freguesia de Curral Del Rey, o antigo nome de Belo Horizonte. Outro fator colaborador foi a expansão da Estrada de Ferro Central do Brasil – a antiga D. Pedro II. Há indícios de que a migração dos cidadãos de Ouro Preto para Belo Horizonte foi determinante para a expansão da cidade no final do século XIX e início do XX. Não é por acaso, também, que o metodista fundador do trabalho no Bairro do Quartel seja oriundo de Ouro Preto e que tenha sido um militar.

Os antecedentes históricos da Igreja do Quartel

Umas das notícias sobre as origens da “Egreja Methodista dos Militares” é o testemunho de Raymundo Lopes, no Expositor Cristão, no qual presta homenagem a um dos ilustres fundadores do trabalho. Conforme as palavras do Sr. Raymundo Lopes, “logo que chegou à Belo Horizonte, Manoel Torquato de Oliveira”, o próprio Raymundo Lopes e o rev. João Evangelista Tavares iniciaram o trabalho de “evangelização no Bairro dos Militares” (Cf. EXPOSITOR CRISTÃO 06/06/1918). A partir de tal informação, fomos levados a recorrer a registros que atestam a passagem do rev. João Evangelista Tavares por Belo Horizonte naquele contexto.

Conforme relatório do prefeito Bernardo Pinto Monteiro, o qual consta no Arquivo Público de Belo Horizonte (Índice de relatórios ano de 1902 - Item 3.12 – vol.1 – 1902 – Construção da igreja Metodista. p. 53), o Sr. João Evangelista Tavares era o representante da instituição religiosa, que recebeu gratuitamente uma área de 14.273 metros quadrados no quarteirão nº 2 da 1ª secção urbana. Segundo se tem notícia, João E. Tavares ganhou o primeiro terreno que um grupo protestante obteve da intendência da capital, deixando a capital mineira antes de 1904. Sabe-se que o rev. James L. Kennedy inaugurou o primeiro templo da Igreja Metodista Central em 31 de dezembro de 1904 (KENNEDY, p.123.).

Cabe-nos pontuar, entretanto, que o rev. João Evangelista Tavares teve a sua primeira designação para o trabalho em Belo Horizonte na 10ª Conferência Anual, em 25 de julho de 1895 (KENNEDY, p.86.), e depois, durante o período de 1898-1899, conforme nomeação da Conferência Anual Brasileira, realizada em Piracicaba, em 1898 (BARBOSA, p.157.). Conjectura-se que a nomeação do rev. João Evangelista Tavares se perpetuou até 1902, porque somente em 1902 é que Tavares conseguiu a doação do terreno da Igreja Metodista Central e do Colégio Izabela Hendrix, e é provável que nesse interregno, iniciou o trabalho metodista no Bairro do Quartel, em Santa Efigênia, na companhia do sr. Manoel Torquato de Oliveira.

Manoel Torquato de Oliveira e os primórdios da Igreja do Quartel

O trabalho missionário do Bairro do Quartel, hoje Bairro Santa Efigênia, teve o seu início por volta do final do século XIX ou início do XX. Em parte, a inauguração da frente missionária se deve ao engajamento missionário do irmão Manoel Torquato de Oliveira, que veio para Belo Horizonte, transferido da cidade de Ouro Preto. Somos levados a considerar essa hipótese, uma vez que o passamento (falecimento) do irmão Manoel Torquato de Oliveira se deu em 24 de setembro de 1901.

Segundo testemunho de Raymundo Lopes no Expositor Cristão, depois de algum tempo de árduo trabalho e de constantes perseguições, Manoel Torquato de Oliveira abandonou a carreira militar, quando poderia ter promoção, para se dedicar à pregação. Porém, o irmão Torquato veio a cair enfermo e ficou impossibilitado de tomar parte nos cultos que se promoviam na Igreja Central. Foi então que solicitou ao rev. João Evangelista Tavares que “organizasse em sua casa uma Escola Dominical e cultos semanais” (Cf. EXPOSITOR CRISTÃO 06/06/1918).

Provavelmente, o que ocorreu com o trabalho missionário no Bairro do Quartel é o que havia ocorrido com a fundação de outras frentes missionárias, já que nem sempre a organização de uma unidade local da Igreja Metodista ocorria no mesmo dia da fundação ou criação do trabalho missionário. Aliás, esse é um aspecto do trabalho de pesquisa para o qual devemos sempre estar alertas.

A organização da Igreja dos Militares

A organização da Igreja do Quartel, conhecida ainda como Igreja Metodista dos Militares, em Belo Horizonte, remonta ao ano de 1908. Conforme James L. Kennedy, em “Cincoenta Annos de Methodismo no Brasil”, “no dia 3 de julho [de 1908] foi organizada a Egreja Methodista dos Militares em Belo Horizonte” (KENNEDY, p.137.). É fundamental entendermos a organização da Igreja do Quartel, que é posterior, portanto, à passagem de João Evangelista Tavares por Belo Horizonte. Em outras palavras, é preponderante afirmar que o Rev. João Evangelista Tavares não foi pastor em Belo Horizonte durante os períodos de 1907-1908 e 1908-1909.

Um dos mais antigos registros conservados que retrata a história de fundação de várias igrejas locais, as atividades dos circuitos e distritos e o assentamento de registros das decisões das conferências da Igreja Metodista é o Annuario, publicado sob orientação da “Conferencia Annual da Egreja Methodista Episcopal do Sul”, seja pela própria casa publicadora da Igreja Metodista ou por uma tipografia indicada.

Pesquisando os Annuarios de 1907-1908 e 1908-1909 levantamos tais dados, que atestam seguramente as informações históricas de James L. Kennedy. No mais, o Annuario de 1908-1909 atesta que W. J. Frost foi nomeado para a Igreja do Quartel. Outra informação histórica adicional é que W. J. Frost era oriundo da Conferência de Los Angeles, vindo transferido para a Conferência Brasileira (KENNEDY, p. 137.). Mais tarde, na Conferência de 1911, Frost foi descontinuado, deixando de figurar como membro da Conferência Anual Brasileira (KENNEDY, p. 143.).

Considerações Finais

A Igreja Metodista em Santa Efigênia tem, porém, na sua memória, a lembrança da figura do rev. Osório Couto Caire. Conforme a história local, o templo foi consagrado quando receberam o primeiro pastor que, segundo eles, foi o rev. Caire. Caberia salvaguardar que W. J. Frost foi, de fato, o primeiro pastor nomeado para a Igreja do Bairro do Quartel, na Conferência Anual Brasileira, em 1908. Ademais, temos informação, conforme James L. Kennedy, que “em novembro [de 1918] foi inaugurado o templo da Egreja Methodista dos Militares em Belo Horizonte” (KENNEDY, p. 157.). Osório Couto Caire era o pastor local da Igreja do Quartel no contexto da inauguração do templo em 1918. Isso sugere uma correção na história do centenário do templo da Igreja Metodista em Santa Efigênia, que possui sim 100 anos de Igreja organizada e 90 anos de templo inaugurado e dedicado ao serviço da pregação do Evangelho.


Bibliografia:


BARBOSA, José Carlos. Salvar e educar: o metodismo no Brasil do século XIX. Piracicaba: Cepeme, 2005.
CONFERENCIA ANNUAL DA EGREJA METHODISTA EPISCOPAL DO SUL NO BRASIL. Annuario 1907-1908. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Metodista. 1908.
CONFERENCIA ANNUAL DA EGREJA METHODISTA EPISCOPAL DO SUL NO BRASIL. Annuario 1908-1909. São Paulo: Typografia Brazil de Rothschild & Co. 1909.
FONTES, Ernestina Célia. Centenário da Igreja Metodista em Santa Efigênia [Mensagem pessoal]. Mensagem recebida por em 14 de novembro de 2008.
KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928.
RELATÓRIOS DE PREFEITOS 1899-1902. Arquivo Público de Belo Horizonte. Índice de relatórios ano de 1902 - Item 3.12 - vol.1 - 1902 - Construção da Igreja Metodista.

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