Numa perspectiva geral, a missão metodista estabelecida em Belo Horizonte no final do século XIX e início do XX apresentava intenções declaradas, senão audaciosas de chegar ao Norte do Estado de Minas Gerais a partir do metodismo implantado na capital. Apesar da marcante distância geográfica entre Belo Horizonte e as cidades do Norte de Minas, chegar àquela região significava apenas embarcar em mais uma aventura missionária para os pioneiros metodistas que desbravavam o rústico campo mineiro. A caminhada dos missionários foi muitas vezes extenuante, no entanto, a disposição física e espiritual caracterizava a caminhada que se renovava a cada nova etapa do estabelecimento da missão através de cada novo campo missionário que era criado com o auxílio da Graça de Deus.
A motivação missionária
A motivação missionária dos missionários metodistas era, de fato, contagiante. Temos notícias de que o povo metodista belo-horizontino, embora pequeno numericamente, estava extremamente envolvido com a causa do Evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo. Evidência disso é o trabalho missionário desprendido de Manoel Torquato de Oliveira, no Bairro do Quartel, em Santa Efigênia, ou ainda o do carpinteiro Cândido Mendes de Magalhães, em Venda Nova, entre outros que não tivemos ainda a oportunidade de mencionar.
Os registros do ano eclesiástico de 1898-1899, conforme James L. Kennedy, observando a Conferência Anual Brasileira, favorecem uma impressão muito positiva da caminhada do metodismo em Belo Horizonte e a razão da motivação missionária existente no seio da Igreja Metodista. É admitida a organização de sociedades auxiliadoras de senhoras em Santa Rita do Passa Quatro, bem como em Uberaba (KENNEDY, p.95.).
Outra notícia é que nos fins de novembro de 1898 os metodistas pregaram o Evangelho em Anta e em Santo Antônio do Chiador, através dos revs. Tarboux e Lander. Assim, o metodismo chegou à cidade de Anta através dos pregadores estabelecidos em Minas Gerais. Ao que tudo indica, foi Tarboux, o presidente do Distrito de Minas, quem pregou o Evangelho pela primeira vez na cidade de Anta. Para quem não sabe, John William Tarboux veio a ser em 1930 o primeiro bispo eleito pela Igreja metodista brasileira, quando da autonomia do metodismo brasileiro.
James L. Kennedy lembra, sobretudo, que “em maio [de 1899], no dia 18, reuniu-se em Bello Horizontte a Conferencia Distrital de Minas, sob a presidência de J. W. Tarboux. Esta Conferencia foi muito animadora e espiritual. Naquella ocasião havia em todo o distrito uns 784 membros professos e havia por todo o território uma revivificação espiritual e novos campos foram abertos” (KENNEDY, p.95.). O trabalho metodista em Uberaba, além de organizar uma sociedade auxiliadora de senhoras no ano eclesiástico de 1898-1899, lançou “com solenidade e singeleza a pedra angular do templo methodista em Uberaba” em maio de 1899 (KENNEDY, p.95.).
Raízes do metodismo em Sete Lagoas, Matozinhos, Cordisburgo e Curvelo
O trabalho metodista em Belo Horizonte vivenciava lá pelos idos de 1898, um dos seus melhores momentos. James L. Kennedy atesta isso, comentando: “o trabalho em Bello Horizonte tomou novo impulso sob o pastorado de J. E. Tavares. Planejaram novas cousas e começaram preparativos para a construção do novo templo. O dr. Tavares também conseguiu pregar o Evangelho em Lafayette e Sete Lagoas” (KENNEDY, p.95.). Aliás, uma das referências históricas de intenção de uma frente missionária em Sete Lagoas é exatamente essa citada pelo rev. J. L. Kennedy.
José Carlos Barbosa confirma essa informação comentando uma nota do Expositor Cristão (18/06/1898), na qual se percebe o caminho missionário apontado pela Igreja naquele contexto. Conforme José Carlos Barbosa “no relatório preparado no primeiro semestre de 1898 pela Comissão sobre Território e Distrito e apresentado à Conferência Distrital de Juiz de Fora, entre diversas recomendações, consta que se crie novo campo missionário começando com a cidade de Sete Lagoas e seguindo por todo o norte de Minas” (BARBOSA, p.246.).
No entanto, a chegada dos metodistas em Sete Lagoas e Matozinhos foi anterior às decisões da Conferência Distrital e à investida de João E. Tavares. “Explicando a origem da presença metodista nessas localidades, J. L. Bruce assinala que a primeira visita foi feita por ele e por McFarland em 1892. Na ocasião tiveram uma boa recepção em Matozinhos, distribuíram Bíblias, falaram com alguns moradores e ainda realizaram cultos no hotel e também no teatro municipal” (BARBOSA, p.246-247.).
Em relação a Sete Lagoas, Bruce relembra que a recepção não foi de longe nem semelhante à que tiveram em Matozinhos (BARBOSA, p.247.). Para resumirmos, os missionários “foram expulsos do hotel e da cidade sob instigação do padre católico do lugar e não conseguiram realizar nenhum culto público. O que fizeram foi conversar com poucas pessoas da cidade” (Anual Report citado por BARBOSA, p.247.).
Conforme José Carlos Barbosa, há outra versão da história das primeiras incursões dos missionários metodistas em Matozinhos e em Sete Lagoas. Tomamos a narrativa de José Carlos Barbosa, citando o Jornal Expositor Cristão: “Em outra versão, publicada no Expositor Cristão, J. L. Bruce fala que em nenhuma das duas cidades eles encontraram boa acolhida. Sobre Matozinhos ele diz: ’Há quatro anos estive neste lugar em companhia do irmão McFarland. Parece que fomos os primeiros pregadores do Evangelho que até aquele tempo tinham ido a este lugar. Não fizemos conferências públicas naquela ocasião, mas segundo o modo adotado por Jesus, passamos por várias casas conversando com o povo” (BARBOSA, p.247.).
Apesar de alguns desencontros nas narrativas, como pôde ser observado, é preponderante a impossibilidade de uma ação missionária mais caracterizada nas cidades de Matozinhos e Sete Lagoas. No tocante ao cargo pastoral de Cordisburgo, há que se incluir aí Curvelo, encontramos uma referência à nomeação de Elias Escobar no Annuário de 1907-1908. Infelizmente, a investida missionária teve que ser recalculada no ano seguinte. James L. Kennedy lembra que “foi resolvido fazer chegar ao conhecimento do Bispo, presidente da próxima Conferencia Annual, as conveniências de fundir em um só circuito os cargos de Sete Lagoas e Cordisburgo” (KENNEDY, p.136). A despeito das adversidades que a Missão enfrentava, o propósito de chegar ao Norte do Estado de Minas mantinha-se aberto e acalorado pelos principais animadores do Distrito de Belo Horizonte, representados nas figuras dos presbíteros presidentes da Missão nos Distritos. Ademais, podemos dizer que o estado da Igreja era bastante animador, e se não se expandia mais era devido à deficiência de trabalhadores efetivos. É tudo o que podemos sintetizar sobre a Missão em Minas Gerais, assim como no âmbito geral da Conferência Anual Brasileira.
BIBLIOGRAFIA
BARBOSA, José Carlos. Salvar e educar: O metodismo no Brasil do século XIX. Piracicaba: Cepeme, 2005.
CONFERENCIA ANNUAL DA EGREJA METHODISTA EPISCOPAL DO SUL DO BRAZIL. Annuario 1907-1908. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Metodista. 1908.
CONFERÊNCIA ANNUAL DA EGREJA METHODISTA EPISCOPAL DO SUL DO BRAZIL. Annuario 1908-1909. São Paulo: Typografia Brazil de Rothschild & Co. 1909.
KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928.
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