sábado, 4 de outubro de 2008

REMINISCÊNCIAS DA CHEGADA DO METODISMO À SÃO PAULO DE MURIAHÉ

A chegada do metodismo à Muriaé remonta aos anos de 1901-1902. Na época, a cidade era conhecida pelo nome de São Paulo de Muriahé. Num relato sobre a presença do metodismo em Muraié, Leon Everett Strunk narra que a presença evangélica na cidade pode ser admitida a partir da chegada de uma família protestante na localidade. Tal família, da qual não se sabe o nome de nenhum dos membros, foi residir inicialmente à Praça Rio Branco, numa casa em que, posteriormente, veio a se instalar a Rádio Patrulha.

Arnaldo Faria, um dos depoentes, no relato do rev. Leon Everett Strunk, lembra que uma família, recém-chegada à cidade, cantava um hino protestante em voz alta, após a missa dominical. O sacerdote, sabendo que se tratava de uma família protestante, não tolerou sua demonstração de fé, “arranjou uma turma de moleques e os mandou dizer aos evangélicos que se calassem e que se retirassem da cidade” (STRUNK, 1968, p.3).

Conforme Leon Everett Strunk, os tais protestantes tiveram que se retirar da cidade. Mais tarde, “outros protestantes vieram para Muriaé, reunindo-se aqui e ali, mais para os lados do Porto [Bairro do Porto], principalmente em casa de João Paiva, o pintor de fama naquela ocasião” (STRUNK, 1968, p.3).

O trabalho missionário, ainda incipiente, parece ter tido as suas bases estabelecidas na zona rural da cidade, o que ainda carece de ser comprovado. Portanto, é através da vinda de uma família de Tapirussú que se iniciou um trabalho missionário pontual em Muriaé. Trata-se da família de João de Oliveira Paiva que, na companhia de sua esposa, Dona Maria Liebert Paiva, e de seu filho, Quintino Liebert Paiva, tornaram possível o estabelecimento do metodismo em Muriaé.

James L. Kennedy narra, por sua vez, que os metodistas inauguraram uma casa de cultos em S. Paulo de Muriahé, no dia 20 de outubro de 1901. Conforme Kennedy, ainda, no dia seguinte, Victorino Gonçalves transformava o trabalho missionário em Igreja organizada (Cf. KENNEDY, 1928, p.113).

Conforme Isnard Rocha, Vitorino [Victorino] Gonçalves foi eleito diácono itinerante e ordenado pelo Bispo Galloway, em 1901, por ocasião da realização da Conferência. De forma memorável, Isnard Rocha lembra que em 1902, Victorino atendia o Circuito de Faria Lemos, o que torna possível admitir sua passagem por Muriaé no contexto de 1901-1902 (ROCHA, 1967, p.189).

A contribuição do pastor J. Floriano Martins para o metodismo de Muriaé foi significativa, direta e indiretamente. Historicamente, o pastor foi responsável pela profissão de fé da família Paiva. São notáveis seu desprendimento, zelo e dedicação, especialmente no que tange ao acompanhamento que ofereceu à família Paiva, quando a mesma se mudou de Tapirussú para Muriaé.

Conforme Leon Everett Strunk, “no arquivo ‘Atas e Documentos’, de 30/07/1903, Muriaé é citada como pertencendo à paróquia de Carangola, tendo tido como pastor o rev. J. Floriano Martins. Ainda em ‘Atas e Documentos’, verificamos que Hipólito de Oliveira Campos [rev. Hypóllito, um ex-padre] pregou em Muriaé no ano de 1905” (Strunk, 1968, p.10). Um outro nome ligado à história do metodismo em Muriaé e à pregação, é o do professor Ziller (STRUNK, 1968, p.10-11).

Num apanhado histórico recente, elaborado a partir de depoimentos de leigos e de leigas, no contexto da celebração do centenário do metodismo em Muriaé (datado de 20 de setembro de 2002), os cultos realizados na casa da família Paiva eram feitos por pastores que atendiam as cidades circunvizinhas, como Carangola, Faria Lemos, Cataguases, Dr. Astolfo (hoje Caiapó), além de Tapirussú, como já lembrado acima.

A comunidade metodista na cidade reconhece o ano de 1902 como o do seu estabelecimento. Resta lembrar que, além das dificuldades existentes em Muriaé, uma cidade ainda muito atrasada, sem iluminação, energia elétrica e calçamento, muito cedo, pastores e leigos já buscavam alargar as tendas do metodismo para além dos limites do município.

Conforme depoimentos, coletados pelo rev. Leon Everett Strunk e por outros irmãos e irmãs que ainda estão envolvidos no trabalho de resgate da memória do metodismo em Muriaé, muitos leigos e pastores caminhavam até Belizário, São Domingos, Vermelho, Pirapanema [antigo Camargo], Limeira e Ivay, procurando espalhar o Evangelho, chegando aos arraiais mais remotos.

A comunidade perseverou bastante até adquirir a primeira propriedade. Conforme Quintino L. Paiva, tal propriedade foi uma casa adquirida à Rua Coronel Domiciano, próximo à antiga cadeia da cidade, entre 1910-1912. “A Igreja de Muriaé, no legal [conforme depoimento de Quintino L. Paiva], foi organizada em 1912”. Até então, “as reuniões e os cultos eram realizados aqui e ali, em casas dos crentes e de interessados” (STRUNK, 1968, p.11).

Um item interessante da história do metodismo em Muriaé que poucos conhecem é a realização da Conferência Annual Brasileira, em 1923, o que evidencia historicamente o quanto o metodismo havia se consolidado na cidade e se tornara um pólo de referência da evangelização cristã-protestante, tendo reconhecimento da própria Conferência Annual Brasileira (1923), com relatórios muito animadores (Cf. KENNEDY, 1928, p.166).


BIBLIOGRAFIA:

KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928.
ROCHA, Isnard. Pioneiros e bandeirantes do metodismo no Brasil. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1967.
STRUNK, Leon Everett. Sinopse: 66 anos de metodismo em Muriaé. Muriaé-MG, 18p. Trabalho não publicado.

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