sábado, 8 de setembro de 2007

A INSERÇÃO DO METODISMO NO ESTADO DE MINAS GERAIS

Historicamente, Juiz de Fora foi a primeira cidade do Estado de Minas Gerais a receber os missionários metodistas. O trabalho missionário que ali se iniciou, ainda no século XIX, surgiu como uma iniciativa do Distrito do Rio de Janeiro. Nessa conjuntura, estavam reconhecidos como distritos da missão metodista o do Rio de Janeiro e o de São Paulo. A cidade de Juiz de Fora era apontada como estratégica para o estabelecimento de uma Igreja e de um Colégio.

O trabalho missionário de pregação do evangelho iniciou-se em maio de 1884, como veremos a seguir. O Colégio é fundado em 1890, organizado com o nome de “Colégio Americano Granbery”, sob a direção dos missionários J. M. Lander e J. W. Wolling, sendo sustentado financeiramente pela Junta Missionária de Missões da Igreja Metodista Episcopal do Sul dos Estados Unidos.

James L. Kennedy lembra, por sua vez, na história sobre os “Cincoenta Annos do Methodismo no Brasil”, que foi o missionário John James Ransom quem planejou a abertura do campo de evangelização em Minas Gerais, escolhendo Juiz de Fora como sede da obra missionária. Assim, J. J. Ransom enviou Samuel Elliot, Hermann Gartner e Ludgero Miranda para preparar sua chegada. A propósito, esses irmãos se valiam do objetivo de auxiliarem a chegada de um pregador metodista, preparando o ambiente para uma série de conferências, estratégia adotada por vários grupos protestantes no contexto do século XIX, como o foi também no século XX.

Ransom não pode cumprir com o seu planejamento missionário de realizar a série de conferências em Juiz de Fora por motivo de enfermidade na família, solicitando então ao Rev. James L. Kennedy que o substituísse nessa tarefa. Eula Kenndey Long, na biografia que escreve sobre o pai, “O Arauto de Deus – a vida de James L. Kennedy”, relata o episódio com detalhes pitorescos. A seguir citamos trechos do relato:

O Rev. Ransom preparava-se para iniciar trabalho metodista em Juiz de Fora. Enviara adiante, três leigos para distribuírem Bíblias e folhetos, e fazerem propaganda da próxima série de cultos evangelizantes.

Uma noite, após sua volta ao Rio, papai ouviu o tinir da grande campainha do portão. Saindo, viu com surpresa, o Rev. Ransom. “Pensei que o sr. Já estava em Juiz de Fora”, disse ao cumprimentar o amigo e colega.

“Não irmão Kennedy”, explicou o Rev. Ransom, “Minha senhora adoeceu e eu não posso nem levá-la nem deixá-la. Quero que o sr. vá imediatamente em meu lugar, porque os dias das reuniões já foram anunciados”. Papai ficou atordoado.

“Mas Rev. Ransom, acabamos de vir de Piracicaba”, protestou, e acabamos de montar casa de novo!... Mas afinal não soube recusar.

Conforme relato do próprio Kennedy, ali chegando com a sua família foi recebido com muita cordialidade, iniciando logo o seu trabalho. A primeira casa que foi morar, na qual também iniciou a pregação, foi a que alugou na Rua Santo Antônio nº 10, servindo-se da sua sala de jantar como sala de cultos. Foi nesta casa que realizou a série de conferências que estava programada e foi nela também que se converteu Felippe R. de Carvalho, que conforme Kennedy, foi uma das “primícias do Evangelho entre os brasileiros de Juiz de Fora”.

A obra missionária em Juiz de Fora apresentou sinais de grande vigor cedo. Ransom pode cumprir, em seguida, com o seu propósito inicial, substituindo o Rev. Kennedy na direção do recém-fundado trabalho metodista. No seu relatório à segunda Conferência Anual Missionária, Ransom acentuou como o trabalho metodista em Minas Gerais se estendia além de Juiz de Fora, para Mar de Hespanha, Rio Novo e arredores, organizados em três circuitos. Juiz de Fora, logo, veio abrigar o terceiro templo metodista brasileiro e o primeiro de Minas Gerais.

As origens da 4ª Região Eclesiástica, como já dito de outra forma, podem ser interpretadas a partir do reconhecimento territorial e eclesiástico do Distrito de Minas, ocorrido em 1892. A missão metodista em Juiz de Fora e arredores já representava um circuito importante no contexto do metodismo brasileiro. A estrutura eclesiástica primária do metodismo brasileiro estava assim forjada, composta agora dos Distritos Rio de Janeiro, São Paulo e Minas.

É oportuno relembrar aqui ainda um fato histórico que é o ocorrido em 18 de maio de 1887, quando se reuniu na cidade de Juiz de Fora, no bairro Mariano Procópio, na nova Igreja Metodista, a primeira Conferência Distrital do Metodismo Brasileiro. A sessão foi composta por J. L. Kennedy (presidente da Conferência), H. C. Tucker, J. R. de Carvalho, F. R. de Carvalho e Ludgero de Miranda. Pela primeira vez também, elegeram-se delegados leigos à Conferência Anual Brasileira: S. D. Rambo e Thomaz Duxbery, como já registramos isso de outra forma anteriormente.


BIBLIOGRAFIA:

1. BARBOSA, José Carlos. Salvar e educar: o metodismo no Brasil do século XIX. Piracicaba: CEPEME, 2005.
2. KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928.
3. MESQUITA, Zuleica de Castro Coimbra. “A proposta educacional metodista no Brasil: fase de implantação – 1876-1914”. Revista do Cogeime. Piracicaba: COGEIME, v. 4, n. 6, 1995.
4. SILVA, Gercymar Wellington Lima e. As origens da Quarta Região Eclesiástica. Belo Horizonte: Gráfica e Editora Nacional, 2006.

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