sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A PRESENÇA METODISTA NO ARRAIAL DE VENDA NOVA: A CONVERSÃO DO CARPINTEIRO CÂNDIDO MENDES DE MAGALHÃES – O PRIMEIRO METODISTA DE VENDA NOVA

Infelizmente nossas igrejas locais têm pouco conhecimento da própria história, o que constitui um desafio levantar dados tão específicos, assim como dialogarmos sobre a História da Inserção do Metodismo em Minas Gerais. Seria indispensável para um trabalho mais promissor conseguirmos organizar um ministério preocupado com a História e a Memória da Igreja para facilitar o resgate da nossa herança metodista e wesleyana.

Elegemos abordar nesta página a história da presença metodista no pequeno arraial de Venda Nova, o qual conta com uma história missionária oriunda do século XIX, descoberta recentemente por José Carlos Barbosa. Até então, poucos sabiam que o arraial de Venda Nova foi alvo efetivo da atuação missionária, decorrente da chegada do metodismo à cidade de Sabará e à pequena freguesia de Belo Horizonte [naquela época conhecida apenas como Curral Del Rei].

Buscaremos, assim, descrever uma narrativa sobre a presença metodista em Venda Nova a partir da conversão de Cândido Mendes de Magalhães, considerando quem foram os ministros que lhe anunciaram o Evangelho e as verdades bíblicas, levando-o a ser um cristão professo na fé metodista. Conseqüentemente, conheceremos um pouco sobre a incursão do metodismo em Venda Nova, no desfecho do século XIX.

A história da experiência de conversão de Cândido Mendes de Magalhães é um dos relatos mais convictos que lemos nas páginas do Expositor Cristão, especialmente no contexto do século XIX. Na opinião de José Carlos Barbosa, a experiência de Cândido Mendes de Magalhães “descreve um itinerário bastante freqüente entre os que adotavam o protestantismo” (Cf. BARBOSA, p.228.).

Conforme José Carlos Barbosa, Cândido Mendes de Magalhães exercia o ofício de carpinteiro e era católico. Segundo o autor, por vinte e quatro anos lutou contra a própria ignorância (Cf. BARBOSA, p.228.). Tinha um imenso interesse por conhecer as Escrituras Sagradas, busca que o levou ao conhecimento mais abrangente da fé cristã.

No testemunho de sua conversão publicado no Expositor Cristão, o carpinteiro ponderou sobre a dificuldade e proibição de acesso que o povo tinha à Palavra de Deus: “Ouvia falar da Escritura Sagrada proibida pela Igreja e ficava pensativo, pois o que é sagrado é proibido? O que é de Deus é proibido?” (Expositor Cristão, 16/05/1896, p.2.).

Deus, na sua infinita misericórdia, visitou o irmão Cândido Mendes de Magalhães, derramando suas bênçãos sobre sua vida, fazendo-o conhecedor de suas revelações e, conseqüentemente, das verdades cristãs. Tendo procurado assistência espiritual de um padre, com a reputação de sábio, não encontrou solução para seus dilemas de fé. Essas e outras coisas contribuíram para que o irmão Cândido começasse a examinar os abusos que se davam na Igreja (Expositor Cristão, 16/05/1896, p.2.).

Pretendendo ir ao Rio de Janeiro ouvir a pregação do Evangelho pelos ministros que ouvia dizer que lá havia, soube que em Sabará, a 18 quilômetros de sua residência (Belo Horizonte), havia pregadores do Evangelho. Continuamos a narrativa da experiência utilizando as palavras do irmão, registradas no Expositor Cristão:

“Preparava-me para procurá-los quando Deus trouxe à minha casa pela primeira vez os irmãos Ministros Srs. Cardoso e Bruce (...) e algum tempo mais tarde o zeloso irmão Cardoso conseguiu arranjar uma sala onde pregou três vezes, as primeiras que pude ouvir, sendo que já, nessa ocasião, possuía a Bíblia que o mesmo zeloso irmão me fornecera, bem como a outras pessoas” (Cf. Expositor Cristão, 16/05/1896, p.2.).

A conversão de Cândido Mendes de Magalhães ocorria paulatinamente, à medida que ia lendo e meditando na Palavra e no auxílio que o irmão Cardoso lhe prestava. Nesse meio tempo, o carpinteiro Cândido compreendeu as razões da negação da Igreja de Roma pela Escritura Sagrada. O irmão tomou direção mais segura na caminhada de fé, rompendo de vez com o erro, fazendo profissão de fé depois da 4ª pregação que viu e ouviu realizando no ensino de Jeremias – “Vós me buscareis e me achareis...” (Expositor Cristão, 16/05/1896, p.2.).

Como temos lembrança, a visita do Rev. J. L. Bruce, feita na companhia do Rev. Antônio Cardoso da Fonseca, à Belo Horizonte é o primeiro registro histórico de um contato com a cidade, ocorrido em maio de 1892. Conforme se tem notícia, não foi uma visita bem sucedida. Noutra ocasião lembramos que na primeira visita dos Revs Bruce e Cardoso, o Padre Marcelo promoveu um levante, “insuflando a população no combate aos pregadores”. Mesmo assim, o Evangelho encontrou boa acolhida em Venda Nova, mesmo tendo encontrado ali expressões do zelo católico também, tendo o tentador utilizado a pessoa de “um tal mestre Quinca que a fina força queria perturbar a pregação (...)” e a ordem na casa que conseguiram alugar.

Contudo há garantia por parte de João Evangelista Tavares que em Venda Nova sempre houve boa acolhida ao Evangelho e aos ministros protestantes. Resta considerar que Venda Nova era apenas um arraial de Curral Del Rey e parte integrante da freguesia, como até hoje é parte de Belo horizonte. Mas falar de Venda Nova naquela época era falar de um arraial (uma localidade). Basta conferirmos as palavras de João Evangelista Tavares: “No dia 25 (abril) seguimos para Venda Nova, pequeno arraial a 25 léguas da nova capital e lugar da residência do Sr. Cândido Mendes de Magalhães, um dos mais fiéis crentes e membros da nossa Igreja” (Expositor Cristão, 09/05/1896, p.1.).

À modo de conclusão, lembramos que “o carpinteiro Cândido Mendes de Magalhães foi o primeiro metodista de Venda Nova, convertido durante o período em que morava em Belo Horizonte e fruto do trabalho evangelístico realizado por J. L. Bruce e A. Cardoso da Fonseca” (Cf. BARBOSA, p.227.). O testemunho de João E. Tavares assinala o zelo e compromisso do irmão Cândido Mendes de Magalhães, representante fido da memória e da presença metodista que se conservou fiel à sua profissão de fé, sonhando com um tempo em que poderia fundar ali uma congregação regular para a proclamação da Palavra de Deus que um dia o levou a trilhar o caminho da salvação plena.

BIBLIOGRAFIA:

BARBOSA, José Carlos. Salvar e educar: o metodismo no Brasil do século XIX. Piracicaba: Cepeme, 2005.
EXPOSITOR CRISTÃO. São Paulo, 1896.
KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928.

INCURSÕES MISSIONÁRIAS NA CIRCUNVIZINHANÇA DE JUIZ DE FORA - Início do metodismo em Lima Duarte

O metodismo chegou à Lima Duarte através do trabalho incansável de Antonio de Souza Pinto, portanto, apontamos a necessidade de conhecer a sua trajetória no cenário do metodismo mineiro-juizforano. É verdade que muitos outros obreiros colaboraram no Circuito de Juiz de Fora e nos arredores. No entanto, temos que nos limitar a discorrer neste momento somente sobre Antônio de Souza Pinto. Como é nossa proposta, em seguida, buscaremos esboçar o surgimento do trabalho metodista em Lima Duarte e a importância de tal comunidade, sendo que a mesma parece compor uma extensão do trabalho missionário de Juiz de Fora.

Diferentemente do trabalho metodista em Palmyra, do qual encontramos várias referências históricas e pessoas interessadas em pesquisar sobre as origens do metodismo na cidade, há um desconhecimento quase que total da história do metodismo em Lima Duarte. A indicação pontual apenas do início do trabalho metodista em Lima Duarte, na obra de James L. Kennedy, oculta mais detalhes sobre o aparecimento do trabalho na pequena Lima Duarte. Entretanto, essa comunidade estava em nosso roteiro de pesquisa e seu surgimento tem importância capital no resgate histórico do metodismo em Minas Gerais. Há indícios de vínculos entre o trabalho em Lima Duarte e o trabalho de Barbacena, o que carece de confirmação com uma pesquisa mais detalhada.

A trajetória de Antonio de Souza Pinto na Igreja Metodista
Como já narramos certa feita, Antonio de Souza Pinto foi responsável também pela inserção do metodismo em Palmyra (Santos Dumont). É oportuno elencarmos alguns itens sobre a trajetória histórica de Antonio de Souza Pinto na Igreja Metodista, como em outros momentos o fizemos, lembrando de vários nomes importantes para a história do metodismo em Minas Gerais.

Lembramos assim, que Antonio de Souza Pinto foi licenciado pregador em 28 de fevereiro de 1901, ao lado do ex-padre Hyppolito de Oliveira Campos (KENNEDY, 1928, p.107.). Conforme se tem notícia, Hyppolito de Oliveira Campos é outro nome importante ligado as raízes do trabalho em Juiz de Fora; primeiro, pela oposição que fez ao metodismo; depois, compondo as fileiras de pregadores do Evangelho, ao lado dos pregadores metodistas no Circuito.

O primeiro desafio missionário de Antonio de Souza Pinto foi, portanto, encetar um trabalho em Palmyra. James L. Kenndey lembra que a primeira visita à Palmyra ocorreu em maio de 1901 (KENNEDY, 1928, p.109.). Constata-se que Antonio de Souza Pinto era então um pregador licenciado e pastor ajudante no Circuito de Juiz de Fora. Na seqüência, seu nome surge ligado à incursão do metodismo em Lima Duarte, fato que se reveste de extremo significado e nos ajuda a compreender a irradiação do metodismo a partir de Juiz de Fora.


O metodismo em Lima Duarte e o cenário do seu surgimento

A história sobre a inserção do metodismo em Juiz de Fora e cercanias é, sem dúvida, uma história do metodismo regional. Ao comentarmos sobre as origens da Quarta Região Eclesiástica (Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, Estados), indicamos que a nossa história é obviamente decorrente da inserção do metodismo no Brasil (SILVA, As origens da Quarta Região Eclesiástica, 2006, p.5.). De modo similar, podemos afirmar também que a nossa história em Minas Gerais é decorrente da inserção do metodismo em Juiz de Fora, de onde ele irradia suas raízes para todo o Estado de Minas Gerais (Cf. REVISTA EM EDIÇÃO ESPECIAL COMEMORATIVA DO CENTENÁRIO DO METODISMO EM JUIZ DE FORA, p. 29.).

Compete-nos ressaltar ainda que no contexto do surgimento do trabalho metodista na cidade de Lima Duarte, o metodismo inaugurou trabalhos missionários em pelo menos três localidades simultaneamente: Lima Duarte, Faria Lemos e Vargem Grande. A data para a fundação dos respectivos trabalhos é a de 16 de agosto de 1901. Como lembra James L. Kenndey: “Em Faria Lemos, a 16 de agosto, teve início o trabalho por Victorino Gonçalves; em Lima Duarte, por Antonio de Souza Pinto e em Vargem Grande, por E. Escobar Jr... ” (KENNEDY, 1928, p.111.).

No mesmo ano do surgimento desses trabalhos missionários, o metodismo inaugurou uma casa de culto na cidade de Muriaé [ou S. Paulo de Muriahé, como era anteriormente conhecida], no dia 21 de outubro de 1901 (Cf. KENNEDY, 1928, p.113.). No mais, resta informar que o ano de inauguração do trabalho missionário em Lima Duarte era um ano histórico para o metodismo brasileiro. Comemorava-se o 25º aniversário do restabelecimento do trabalho de nossa igreja no Brasil (KENNEDY, 1928, p.111.).

No tocante ao primeiro momento missionário da Igreja Metodista em Lima Duarte, apesar das informações escassas, pudemos aferir que os primeiros membros da Igreja foram: Francisco Ferreira da Paz Fortuna, Rachel Fortuna, Flausino Tavares da Silva, Hilarino A. da Costa, José da Cruz Bandeira, Vitalina da Costa, Manoel Joaquim de Almeida e Maria de Almeida, todos recebidos por batismo e profissão de fé, arrolados em 8 de dezembro de 1901. O pastor do campo de Lima Duarte na ocasião era o Rev. E. A. Tilly. Desde então, passaram pela Igreja Metodista em Lima Duarte pastores como J. C. Reis, Hyppolito de Oliveira Campos, Adolpho M. Ungaretti, João Evangelista Tavares, Alfredo M. Duarte, Miguel Dickie, José Ferraz. Raul Fernandes da Silva, Chas A. Long, W. B. Lee W. H. Moore, entre outros que serviram no campo de Juiz de Fora e arredores, atendendo o campo de Lima Duarte.

Considerações Finais

A comunidade metodista na cidade de Lima Duarte não obtém muitas referências de suas origens. Hoje, pelo menos, já se sabe do começo pontual da história do metodismo na cidade e um pouco sobre a trajetória da Igreja, vista somente a partir do Livro Rol de Membros. Cremos, no entanto, que há um elo entre a Igreja que forjou seus passos até 1949, quando a mesma foi descontinuada, em virtude do trabalho ter passado a ser congregação da Igreja Metodista no Bairro São Mateus, e a Igreja atual, que consolida um novo trabalho, agora como Campo Missionário Distrital.

Há, no entanto, uma analogia desse item do metodismo em Lima Duarte com a história do metodismo no Brasil, especialmente relacionado com a primeira incursão do metodismo no país em 1835/36 com descontinuidade em 1841 (SILVA, Caminhos e descaminhos da Graça, 2007, p.45-57.). Porém, a descontinuidade do trabalho em Lima Duarte no percurso histórico da missão metodista pelas cidades de Minas Gerais não diminui o brilho atual do metodismo na cidade.



BIBLIOGRAFIA:

KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928.
REVISTA EM EDIÇÃO ESPECIAL COMEMORATIVA DO CENTENÁRIO DO METODISMO EM JUIZ DE FORA. Juiz de Fora, MG: Grafite Gráfica e Editora, 1984.
LIMA e SILVA, Gercymar Wellington. As origens da Quarta Região Eclesiástica. Belo Horizonte: Gráfica e Editora Nacional, 2006.
_____. Caminhos e descaminhos da Graça: a herança wesleyana e a intermediação americana nas origens do metodismo brasileiro. São Paulo: Editora Cedro, 2007.