A chegada do metodismo a determinadas regiões e/ou cidades mineiras seguia um percurso específico no final do século XIX e início do século XX. Naquele contexto, os missionários metodistas pretendiam chegar ao Norte do Estado de Minas, defendendo claramente um itinerário para alcançar este objetivo. Embora as intenções dos missionários nos pareçam audaciosas, como já mencionamos anteriormente, chegar àquela região significava apenas embarcar em mais uma aventura missionária.
Procuraremos, assim, descrever algumas expectativas, intenções e ações do movimento metodista naquele contexto, o qual se caracterizou genuinamente audaz e missionário nas terras das alterosas, num tempo em que os pregadores só contavam com a própria condição de saúde e vigor físico para fazer imensas caminhadas ou então com veículos de tração animal ou, em último caso, com a expansão da linha férrea, para cumprir cada meta proposta no projeto de expansão missionária da Igreja.
Procuraremos, assim, descrever algumas expectativas, intenções e ações do movimento metodista naquele contexto, o qual se caracterizou genuinamente audaz e missionário nas terras das alterosas, num tempo em que os pregadores só contavam com a própria condição de saúde e vigor físico para fazer imensas caminhadas ou então com veículos de tração animal ou, em último caso, com a expansão da linha férrea, para cumprir cada meta proposta no projeto de expansão missionária da Igreja.
Os primórdios da pregação evangélica em Santa Maria de Itabira
O começo da pregação evangélica em Santa Maria [de Itabira] remonta aos idos de 1908-1909 e possui ligação inicial com a pessoa do Sr. Kulman, um cristão norte-americano, de confissão batista. O Sr. Kulman chegou à Santa Maria para implantar linhas telegráficas entre Santa Maria e Ferros, contratado como engenheiro da companhia telegráfica (Diálogo Pastoral, 2003, p. 4.). Ao mesmo tempo em que desenvolvia seu trabalho profissional, o Sr. Kulman iniciou um trabalho de pregação do Evangelho às famílias residentes nas fazendas, em Santa Maria de Itabira.
Conforme se tem notícia, o primeiro a acolher a mensagem do Evangelho foi o Sr. Pedro Bicudo, seguido de sua mulher, D. Nhanhá, e seu filho, Claudomiro, moradores de Santa Maria, residentes na Fazenda Vitória (Diálogo Pastoral, 2003, p. 4.). Depois da conversão, Pedro Bicudo logo se pôs a evangelizar seus amigos. Nas imediações da Fazenda Vitória, ali mesmo onde morava, começou a evangelizar alguns conhecidos. O primeiro a ser atingido pelo testemunho do irmão Pedro Bicudo foi o Sr. Manoel Ignácio Oliveira (o Neco Rato), um católico zeloso da localidade.
Assim, todas as tardes, quando o Sr. Manuel Ignácio Oliveira passava na fazenda para ir à Igreja do Chaves para “tirar a reza”, o irmão Pedro Bicudo chegava à estrada e interpelava o Sr. Manuel, mostrando “na Bíblia que ele estava errado em adorar os santos” (O Despenseiro – Boletim local – IM em Stª Maria do Itabira, 1992). Tendo sido caracterizada uma insistência por parte do irmão Pedro Bicudo em evangelizar o sr. Manuel, este procurou outro caminho para não se encontrar mais com o evangelizador contumaz e insistente. Durante o ano de 1908, Manuel Ignácio Oliveira, conforme suas anotações auto-biográficas, já tinha recebido vários jornais evangélicos do seu amigo Pedro Bicudo.
Por ocasião do Batismo de Pedro Bicudo, Manuel Ignácio Oliveira, sendo convidado pelo amigo, foi assistir o Batismo no rio tanque, o qual foi realizado por 2 (dois) pastores batistas. Destacamos a seguir seus sentimentos iniciais em relação aos protestantes: “não fui [ao Batismo] por causa de religião, mas para servir ao amigo Pedro Bicudo”. Mas, ao ouvir o sermão e assistir o Batismo do amigo, dei o meu primeiro passo... (Oliveira, Minha Vida – Texto não publicado).
George Daniel Parker, Manuel Ignácio de Oliveira e as origens do metodismo em Santa Maria do Itabira
George Daniel Parker (1872-1958), mais conhecido como G. D. Parker, era natural de New Orleans, Louisiana, EUA, nascido aos 17 de agosto de 1872. Chegou ao Brasil como missionário em 8 de outubro de 1901, sendo nomeado para a congregação do Catete no Rio de Janeiro (Betts, p. 30.). O missionário G. D. Parker foi recebido na Conferência Anual no ano seguinte, transferido da Conferência Louisiana, EUA (Cf. Kennedy, p 114. e Vitrais da Igreja Metodista Wesley, p.17.).
Parker, ao que parece, concluiu seu período de experiência pastoral no Brasil e, então, na 18ª Conferência Anual Brasileira, realizada em Piracicaba, em 30 de julho de 1903, recebeu suas credenciais de presbítero, tornando-se a partir de então pregador itinerante da Conferência (Cf. Kennedy, p 118.). Conforme João Nelson Betts, “dois anos após a sua chegada”, Parker foi nomeado “Secretário das Ligas Epworth” (Cf. Vitrais da Igreja Metodista Wesley, p.17.). Além disso, o missionário foi redator da revista “Juvenil” e gerente da Casa Publicadora, no Rio de Janeiro.
Em 1906, o missionário foi eleito um dos secretários da Conferência Anual Brasileira ao lado de João E. Tavares e Antônio C. da Fonseca (Cf. Kennedy, p 118.). No ano eclesiástico de 1907-1908, G. D. Parker foi nomeado para o Distrito de Bello Horizonte, acumulando os cargos pastorais de “Sabará e Morro Velho” e “Sete Lagoas”, além da Secretaria da Liga Epworth (Cf. Conferencia Annual da Egreja Methodista Episcopal do Sul no Brazil, 1908, p. 35.).
Neste ínterim, germinaram as sementes do trabalho metodista em Santa Maria de Itabira. No ano eclesiástico de 1908-1909, o missionário Parker é designado presbítero presidente do Distrito de Bello Horizonte, acumulando novamente o cargo pastoral de Sabará e Morro Velho e a Secretaria da Liga Epworth (Cf. Conferencia Annual da Egreja Methodista Episcopal do Sul no Brazil, 1909. p. 36.). Conforme testemunho do irmão Manuel Ignácio de Oliveira, foi precisamente em maio de 1909, assim que chegaram em Santa Maria de Itabira os pastores G. D. Parker e [Elias] Escobar Júnior, que abraçou a fé evangélica, realizando a pública profissão de fé juntamente com 3 ou 4 parentes.
A experiência de conversão de Manuel Ignácio Oliveira, tomada na sua inteireza, denota o quanto a evangelização precisa ser caracterizada pelo entusiasmo e pela perseverança. Manuel Ignácio veio a ser o primeiro metodista de Santa Maria de Itabira, arrolado no Livro Rol da Igreja em 1º de maio de 1909, recebido por profissão de fé pelo Rev. George Daniel Parker. Não tardou para que o trabalho missionário em Santa Maria de Itabira fizesse franca expansão missionária. Em 22 de abril de 1911, conforme James L. Kennedy, ocorre a organização da “Egreja Metodista de Santa Maria, circuito de Sete Lagoas, districto de Bello Horizonte” (Cf. Kennedy, p 142.). Na Conferência Distrital de Belo Horizonte, era evidente o estado espiritual das igrejas, que apresentaram, com poucas exceções, bons relatórios.
Considerações Finais
No mais, destacamos que os netos de Manuel Ignácio e Pedro Bicudo são membros ativos na comunidade, conforme relato da Igreja Metodista em Santa Maria de Itabira (Despenseiro – Boletim local – IM em Stª Maria de Itabira – 1992). Em relação a G. D. Parker, lembramos que o missionário “dedicou 36 anos de sua vida ao pastorado no Brasil, passando pelos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Conforme João Nelson Betts, “de 1930 a 1934 [G. D. Parker] exerceu [ainda] a função de Secretário Geral de Educação Cristã”.
Bibliografia:
CONFERENCIA ANNUAL DA EGREJA METHODISTA EPISCOPAL DO SUL NO BRAZIL. Annuario 1907-1908. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Metodista, 1908.
CONFERENCIA ANNUAL DA EGREJA METHODISTA EPISCOPAL DO SUL NO BRAZIL. Annuario 1908-1909. São Paulo, Typografia Brazil de Rothschild & Co, 1909.
O DESPENSEIRO – Boletim Informativo da Igreja Metodista em Santa Maria de Itabira. Santa Maria de Itabira, Mimeo, 1992
KENNEDY, James L. Cincoenta annos de Methodismo no Brasil. São Paulo, Imprensa Metodista, 1928.
METODISMO EM SANTA MARIA DE ITABIRA VAI COMPLETAR 94 ANOS. Diálogo Pastoral. Belo Horizonte, 2003. v. 21, n. 244.
OLIVEIRA, Manuel Ignácio. Minha vida. Santa Maria de Itabira. (Texto não publicado)
VITRAIS DA IGREJA METODISTA WESLEY. Porto Alegre, [S.n., s.d.].